sexta-feira, 14 de março de 2014

SEMANA DA LEITURA, GOMES DE FREITAS E O PODER DAS LETRAS | Professor João Álcimo

SEMANA DA LEITURA, GOMES DE FREITAS E O PODER DAS LETRAS


(Discurso proferido por João Álcimo Viana Lima, na condição de Secretário da Educação, na abertura do Chá Literário, no âmbito da I Semana Municipal da Leitura, em Tauá, em 1º de abril de 2011)

Na música “O progresso”[1], Roberto Carlos canta o seguinte:

Eu queria poder afagar
Uma fera terrível
Eu queria poder transformar
Tanta coisa impossível
Eu queria dizer tanta coisa
Que pudesse fazer eu ficar bem comigo
Eu queria poder abraçar
Meu maior inimigo.
Eu queria não ver tantas nuvens
Escuras nos ares
Navegar sem achar tantas manchas
De óleo nos mares
E as baleias desaparecendo
Por falta de escrúpulos comerciais
Eu queria ser civilizado como os animais.

É isso mesmo, nosso cancioneiro questiona o processo civilizatório atual. Não queremos crer que o poder das letras, que em tese marca o estágio de civilização em superação à barbárie, seja responsável pelas ações predatórias e de autodestruição de homens e mulheres. Mas, sem dúvidas, situamo-nos numa situação profundamente paradoxal.
Preferimos crer que a escrita e a leitura, essencialmente, nos tornam pessoas mais humanas. Preferimos apostar no poder, não exclusivo, mas muito relevante, que a literatura tem em transformar o mundo, como nos disse Jorge Amado. Preferimos corroborar Voltaire e compreender que “a leitura engrandece a alma”[2]. Preferimos, assim como Julian Correa, apostar que “a leitura não é uma atividade elitizada, mas uma ferramenta de transformação social dos indivíduos”[3]. Preferimos sonhar como Monteiro Lobato e vislumbrar os livros como moradas de nossas crianças. Preferimos nos incorporar ao escritor argentino Jorge Luís Borges e conceber o livro como “uma extensão da memória e da imaginação”[4]. É, senhoras e senhores, Machado de Assis já nos disse: “se não guardas as cartas da juventude, não conhecerás um dia a filosofia das folhas velhas”[5].
É com essa compreensão, que o Governo Municipal de Tauá, por meio da Secretaria da Educação, instituiu o Dia Municipal da Leitura[6] e, por conseguinte, a Semana Municipal da Leitura, tendo em sua programação este Chá Literário.
Senhoras e senhores. É muito justa a homenagem feita ao homem público e homem das letras Antônio Gomes de Freitas, com a data de seu nascimento sendo escolhida para o Dia Municipal da Leitura, ou seja: 26 de março.
Em sintonia com a máxima machadiana, Antônio Gomes de Freitas, em “Inhamuns, Terra e Homens”[7], revelou, com acurado senso de investigação, as “cartas da juventude” e transmitiu a “filosofia das folhas velhas” para a sua geração e gerações posteriores a 1972, data de sua primeira edição. Antônio Gomes de Freitas na página 73 de sua grande obra, fala de uma igrejinha, que fora “entregue ao culto católico em 15 de outubro de 1762, sob o patrocínio de Nossa Senhora do Rosário”. Ou seja, há 249 anos.
Ouvi, recentemente, do ex-presidente Lula, em meio à emoção com o falecimento de seu amigo e vice-presidente. “O José Alencar era bom em vida”[8]. Senhoras e senhores, em vida, Antônio Gomes de Freitas deixou um grande legado. Mas, essa descrição foi delegada ao nosso ilustre escritor, professor Francisco das Chagas Feitosa Lima[9].
Ademais, agradecemos aos companheiros e companheiras de Secretaria da Educação, pelo grande empenho em materializar esta ideia de construirmos e possibilitarmos momentos e eventos de valorização da leitura e da literatura. Obrigado a todos vocês pelas honrosas presenças.
Recorrendo à composição lida parcialmente no início deste nosso discurso, esperamos que os livros possam efetivamente contribuir para a transformação de tantas coisas consideradas impossíveis.  
Finalizo com o grande poeta baiano:

[...]
O livro – esse audaz guerreiro
Que conquista o mundo inteiro
Sem nunca ter Waterloo...
Éolo de pensamentos,
Que abrira a gruta dos ventos
Donde a Igualdade voou!...[10]

Muito bem, Castro Alves:

Oh! Bendito o que semeia
Livros... livros à mão cheia...
E manda o povo pensar![11]

Muito obrigado!

REFERÊNCIAS


[1] In: <http://www.letras.com.br/roberto-carlos/o-progresso>.
[2] In: <https://pt.wikiquote.org/wiki/Voltaire>.
[3] In: <http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/cadernos/caderno-3/ler-e-preciso-1.311721>.
[4] In: BORGES, J. L. Borges, oral e & sete noites. Tradução: Heloísa Jahn. São Paulo: Companhia das Letras, 2011. p. 5.
[5] In: MACHADO DE ASSIS. Memórias póstumas de Brás Cubas. São Paulo: Globo, 1997. p. 164-165.
[6] O Dia do Municipal da Leitura foi instituído pela Lei Municipal nº 1.760, de 29/12/2010.
[7] FREITAS, A. G. Inhamuns (Terra e Homens). Fortaleza: Henriqueta Galeno, 1972. 198p.
[8] In: <http://www.jb.com.br/pais/noticias/2011/03/30/alencar-ficaria-feliz-por-mim-diz-lula-em-portugal/>.
[9] O escritor tauaense Francisco das Chagas Feitosa Lima discursou, nessa solenidade, sobre a vida e a obra de Antônio Gomes de Freitas.
[10] In: CASTRO ALVES. Melhores poemas. Seleção: Lêdo Ivo. São Paulo: Global, 2003. p. 17.
[11] In: Ibid.

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