SEMANA DA LEITURA, GOMES DE FREITAS E O PODER DAS LETRAS
(Discurso proferido por João Álcimo Viana Lima, na condição de Secretário da Educação, na abertura do Chá Literário, no âmbito da I Semana Municipal da Leitura, em Tauá, em 1º de abril de 2011)
Na música “O
progresso”[1], Roberto Carlos canta o
seguinte:
Eu queria poder
afagar
Uma fera terrível
Eu queria poder transformar
Tanta coisa impossível
Eu queria dizer tanta coisa
Que pudesse fazer eu ficar bem comigo
Eu queria poder abraçar
Meu maior inimigo.
Eu queria não ver tantas nuvens
Escuras nos ares
Navegar sem achar tantas manchas
De óleo nos mares
E as baleias desaparecendo
Por falta de escrúpulos comerciais
Eu queria ser civilizado como os animais.
Uma fera terrível
Eu queria poder transformar
Tanta coisa impossível
Eu queria dizer tanta coisa
Que pudesse fazer eu ficar bem comigo
Eu queria poder abraçar
Meu maior inimigo.
Eu queria não ver tantas nuvens
Escuras nos ares
Navegar sem achar tantas manchas
De óleo nos mares
E as baleias desaparecendo
Por falta de escrúpulos comerciais
Eu queria ser civilizado como os animais.
É isso mesmo, nosso
cancioneiro questiona o processo civilizatório atual. Não queremos crer que o
poder das letras, que em tese marca o estágio de civilização em superação à
barbárie, seja responsável pelas ações predatórias e de autodestruição de
homens e mulheres. Mas, sem dúvidas, situamo-nos numa situação profundamente
paradoxal.
Preferimos crer que a
escrita e a leitura, essencialmente, nos tornam pessoas mais humanas. Preferimos
apostar no poder, não exclusivo, mas muito relevante, que a literatura tem em
transformar o mundo, como nos disse Jorge Amado. Preferimos corroborar Voltaire
e compreender que “a leitura engrandece a alma”[2]. Preferimos, assim como
Julian Correa, apostar que “a leitura não é uma atividade elitizada, mas uma
ferramenta de transformação social dos indivíduos”[3]. Preferimos sonhar como
Monteiro Lobato e vislumbrar os livros como moradas de nossas crianças.
Preferimos nos incorporar ao escritor argentino Jorge Luís Borges e conceber o
livro como “uma extensão da memória e da imaginação”[4]. É, senhoras e senhores,
Machado de Assis já nos disse: “se não guardas as cartas da juventude, não
conhecerás um dia a filosofia das folhas velhas”[5].
É com essa
compreensão, que o Governo Municipal de Tauá, por meio da Secretaria da
Educação, instituiu o Dia Municipal da Leitura[6] e, por conseguinte, a
Semana Municipal da Leitura, tendo em sua programação este Chá Literário.
Senhoras e senhores. É
muito justa a homenagem feita ao homem público e homem das letras Antônio Gomes
de Freitas, com a data de seu nascimento sendo escolhida para o Dia Municipal
da Leitura, ou seja: 26 de março.
Em sintonia com a
máxima machadiana, Antônio Gomes de Freitas, em “Inhamuns, Terra e Homens”[7], revelou, com acurado
senso de investigação, as “cartas da juventude” e transmitiu a “filosofia das
folhas velhas” para a sua geração e gerações posteriores a 1972, data de sua
primeira edição. Antônio Gomes de Freitas na página 73 de sua grande obra, fala
de uma igrejinha, que fora “entregue ao culto católico em 15 de outubro de
1762, sob o patrocínio de Nossa Senhora do Rosário”. Ou seja, há 249 anos.
Ouvi, recentemente, do
ex-presidente Lula, em meio à emoção com o falecimento de seu amigo e
vice-presidente. “O José Alencar era bom em vida”[8]. Senhoras e senhores, em
vida, Antônio Gomes de Freitas deixou um grande legado. Mas, essa descrição foi
delegada ao nosso ilustre escritor, professor Francisco das Chagas Feitosa Lima[9].
Ademais, agradecemos
aos companheiros e companheiras de Secretaria da Educação, pelo grande empenho
em materializar esta ideia de construirmos e possibilitarmos momentos e eventos
de valorização da leitura e da literatura. Obrigado a todos vocês pelas
honrosas presenças.
Recorrendo à
composição lida parcialmente no início deste nosso discurso, esperamos que os
livros possam efetivamente contribuir para a transformação de tantas coisas
consideradas impossíveis.
Finalizo com o grande
poeta baiano:
[...]
O livro – esse audaz guerreiro
Que conquista o mundo inteiro
Sem nunca ter Waterloo...
Éolo de pensamentos,
Que abrira a gruta dos ventos
Muito bem, Castro
Alves:
Oh!
Bendito o que semeia
Livros...
livros à mão cheia...
Muito obrigado!
REFERÊNCIAS
[1] In: <http://www.letras.com.br/roberto-carlos/o-progresso>.
[2] In: <https://pt.wikiquote.org/wiki/Voltaire>.
[3] In: <http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/cadernos/caderno-3/ler-e-preciso-1.311721>.
[4] In: BORGES, J. L. Borges, oral e & sete noites. Tradução: Heloísa Jahn. São
Paulo: Companhia das Letras, 2011. p. 5.
[5] In: MACHADO DE ASSIS. Memórias póstumas de Brás Cubas. São
Paulo: Globo, 1997. p. 164-165.
[6] O Dia do Municipal da Leitura foi
instituído pela Lei Municipal nº 1.760, de 29/12/2010.
[7] FREITAS, A. G. Inhamuns (Terra e Homens). Fortaleza: Henriqueta Galeno, 1972.
198p.
[8] In: <http://www.jb.com.br/pais/noticias/2011/03/30/alencar-ficaria-feliz-por-mim-diz-lula-em-portugal/>.
[9] O escritor tauaense Francisco das
Chagas Feitosa Lima discursou, nessa solenidade, sobre a vida e a obra de Antônio
Gomes de Freitas.
[10] In: CASTRO ALVES. Melhores poemas. Seleção: Lêdo Ivo. São
Paulo: Global, 2003. p. 17.
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