sexta-feira, 14 de março de 2014

FUNDAMENTOS BÁSICOS E CAMINHOS ESTRATÉGICOS PARA O CECITEC NO CONTEXTO DE (RE)CONSTRUÇÃO DE SEU PAPEL NO SERTÃO DOS INHAMUNS | Professor João Álcimo

FUNDAMENTOS BÁSICOS E CAMINHOS ESTRATÉGICOS PARA O CECITEC NO CONTEXTO DE (RE)CONSTRUÇÃO DE SEU PAPEL NO SERTÃO DOS INHAMUNS


(Discurso proferido na solenidade de colação de grau da UECE/CECITEC, em Tauá, em 17 de julho de 2008).

 

Considerações iniciais

A convite de turmas anteriores de concludentes, tive a honra, em outras ocasiões, de participar das colações de grau como orador docente. A partir dessa dignificante incumbência, tive a oportunidade de versar sobre a temática Universidade, destacando o seu percurso histórico, o perfil das instituições brasileiras, a sua relação com a sociedade, alternativas de políticas universitárias, o papel da interiorização, além de outras questões que a ela se relacionam.
Hoje, nesta nobre sessão de colação de grau de 48 (quarenta e oito) concludentes dos cursos de Ciências Biológicas, Pedagogia e Química(1), tenho, mais uma vez, a grata deferência de falar. E, novamente, abordarei acerca da instituição universitária, cuja temática, ao sabor do pluralismo e do debate acadêmico, não se esgota e nos instiga com seu poder de renovação. A Universidade, que tem na tradição aos seus princípios a marca de sua longevidade, sem perder a capacidade de renovar paradigmas, tem sobrevivido, ao longo se seus novecentos anos, a crises conjunturais, estruturais e pontuais.      
Mas, optei por um recorte maior da temática em pauta, concentrando-me exatamente em nosso espaço mais próximo, ou seja, em nossa Unidade, em nosso CECITEC.

 

CECITEC: dez pontos para a “reconstrução”

O CECITEC materializou-se em 1995, graças ao compromisso institucional de interiorização da UECE, ao projeto de gestão do saudoso Reitor Paulo Petrola [1941-2004] e à organização e à determinação da sociedade local(2). Não resta dúvida, que o início de nossas atividades acadêmicas representou uma conquista de valor imensurável para Tauá e para o Sertão dos Inhamuns, haja vista as oportunidades que à época se criavam e se projetavam a partir da estrutura universitária em nossas hostes.
Senhoras e senhores; caros concludentes: Se, por um lado, estamos vivendo um momento de esperança; por outro, estamos com a necessidade, sob a égide da reconstrução, de retomar fundamentos básicos da gestão, redesenhar caminhos estratégicos, inserir e motivar a sociedade civil no processo, recuperar nossa importância no cenário microrregional e mostrar competência, em face da velocidade que vem movendo o conhecimento e os anseios das pessoas.
Sob essa ótica de reconstrução, a meu juízo, o CECITEC precisa se atentar para alguns aspectos, os quais descreverei a seguir:
1º - Precisamos, de imediato, retomar a prática do planejamento participativo estratégico, ancorada na lógica da processualidade e no binômio ação/reflexão. O planejamento sinaliza para a legitimidade das ações e para a responsabilidade e organização técnica, gerencial, política e acadêmica.
2º - O CECITEC precisa recuperar o seu papel de liderança e de instituição estratégica no contexto microrregional, a partir da reabertura do diálogo com a sociedade civil e da execução de ações que contemplem a missão universitária e as demandas sociais.
3º - Necessitamos, com urgência, recuperar o nosso eco interno, para a partir dele, provocar repercussões externas. É isso mesmo, o nosso Eco Acadêmico (uma alusão ao periódico publicado pelos Centros Acadêmicos entre 1999 a 2001, que está fazendo muita falta). Nesse sentido, urge que restabeleçamos a regularidade do funcionamento de nossos órgãos colegiados e que nossos estudantes, de forma autônoma, fortaleçam seus órgãos representativos. Compreendo que o somatório de forças em torno de um projeto maior, resguardado o princípio da autonomia de cada categoria, resultará em um maior dinamismo interno, na animação do processo acadêmico, na qualidade dos serviços e no fortalecimento institucional e democrático.
4º - É imperioso, como destaquei anteriormente, que seja restabelecido o diálogo do CECITEC com a sociedade civil. Aliás, essa integração foi imprescindível para sua fundação e para sua afirmação, na fase inicial de atividades. Com efeito, o isolamento intramuros aponta para um contracaminho da missão universitária. Ressalto que a defesa da autonomia não dispensa a universidade de se integrar com os diferentes núcleos sociais e de prestar contas dos serviços que ela oferece. Esse diálogo pode se concretizar e se fortalecer de várias formas, incluindo as atividades de planejamento, os ciclos de debates, a representação nos conselhos administrativos, as ações extensionistas, dentre outras.
5º - É tempo de a UECE projetar a expansão qualitativa e quantitativa dos cursos de graduação dos campi além-Capital. Precisamos ir além das licenciaturas, que, por uma questão de justiça, ao longo de três décadas, vêm cumprindo um relevante papel na formação de professores no interior, para as áreas humanas e exatas. Em nosso caso particular, em 1995, quando iniciamos as atividades, era pouquíssimo o número de professores com formação superior que atuava no magistério(3). Nesse sentido, o CECITEC cumpriu e continua cumprindo o papel de formar bem os profissionais, para exercerem a docência e atividades correlatas. Mas, a dinâmica histórica requer avanços e adequação às novas demandas, sem que isso signifique desrespeito aos princípios e à própria história. Em meio às mudanças, Tauá atualmente, conta com os serviços de outras cinco instituições de ensino superior, por meio da iniciativa privada. Além disso, está previsto para este ano [2008] o início de cursos em regime semipresencial, no âmbito do programa Universidade Aberta do Brasil (UAB)(4), através de parceria entre Prefeitura, MEC e outras instituições; bem como o funcionamento do CEFET [hoje, Instituto Federal de Educação, Ciências e Tecnologia do Ceará/IFCE], a partir de 2009/2010(5). Essas novas iniciativas não podem ser encaradas pela lógica da concorrência mercadológica, mas sob a ótica de que há muitos espaços e demandas para a implantação de políticas universitárias, incluindo a oferta de novos cursos de graduação, tanto em nível de licenciatura, como de bacharelado e dos denominados cursos tecnológicos.
6º - Precisamos, também, recuperar nosso papel extensionista, como forma de chegarmos mais próximo do povo, com a popularização do saber. Entendo que em se tratando de uma unidade universitária interiorana, é ainda maior a responsabilidade em torno de uma política de extensão que leve em conta as vocações, as culturas e as demandas locais. Recorro, a propósito, a Jacques Marcovitch: “A extensão é uma via para a universidade transferir ao conjunto social o que ela tem de mais consolidado, em termos de ensino e pesquisa. À medida em que ela se consolida nessas áreas, vai gerando na sociedade a expectativa de ter acesso a esse conhecimento extracurricular”(6).
7º - A pesquisa, a iniciação científica e a pós-graduação também precisam ser incorporadas ao nosso cotidiano. O CECITEC, sob o risco de comprometer seu papel de liderança, precisa estar atento acerca do potencial gerado a partir da disseminação dos cursos de graduação, da evolução infraestrutural e dos conceitos na administração local e das novas expectativas geradas.
8º - Em que pese o fato de estarmos em sede própria desde o início das atividades, é notória a deficiência de nossas instalações físicas. Assim sendo, a UECE, em parceria com o Governo do Estado, precisa com urgência projetar a ampliação e a modernização de nossa infraestrutura(7).
9º - Não podemos ficar à margem dos investimentos na área da tecnologia da informação. A impressão que tenho é que nos últimos quatro anos [de 2004 a 08], a UECE, em particular esta Unidade, ficou anestesiada em meio à velocidade tecnológica. Nesse sentido, com um pouco de criatividade e com nossa capacidade interinstitucional, podemos, em parceria, com a SECITECE, o CENTEC, o SEBRAE e a Prefeitura local, além de outros órgãos governamentais e não governamentais, estabelecer projetos em TI que venham fortalecer as nossas ações e atrair novos investimentos. Abrimos um parêntese para destacar que Tauá, sob a liderança da Prefeita Patrícia Aguiar, tornou-se destaque por conta da ousadia planejada, consciente e determinada de ser a primeira Cidade Digital do Nordeste(8)
10º - Precisamos valorizar nossa história e nossa produção acadêmica. Desse modo, é viável que conclamemos nossos ex-alunos e nossas ex-alunas para estabelecerem uma cruzada de propagação do que já construímos e do que podemos construir e para o que podemos contribuir. Caras e caros concludentes, vocês, certamente, vivenciaram e sofreram muitas dificuldades. Mas, torcemos para que as dificuldades, que se transformaram em desafios, resultem no fortalecimento do vínculo de todos vocês com este Centro.

 

A esperança no CECITEC: a título de considerações finais

Magnífico Reitor [Prof. Francisco de Assis Moura Araripe], senhor Diretor [Prof. Antonio Charles Silvério]. Neste início de reitorado(9), são muitos os desafios que estão postos e que estão sendo aguardados pela sociedade.  É evidente que o êxito de um projeto de gestão depende de uma correlação de fatores. No entanto, a capacidade administrativa e o compromisso institucional dos gestores são fatores que fazem a diferença no enfrentamento dos desafios.
Magnífico Reitor, professor Araripe, conheço a seriedade de Vossa Magnificência e sua identificação com a UECE e seu processo de interiorização. Citando nosso saudoso Joaquim de Castro Feitosa, “o Araripe é um homem que não tem medo do interior”(10). É por isso que o nosso discurso, nesta noite, reveste-se de esperança para que o CECITEC recupere a sua pujança, no contexto microrregional e estadual e se estabeleça, de forma planejada e processual, com novos projetos e novas atitudes. Certamente, saberemos a quem cobrar!
Caras e caros concludentes, resta-me agradecer-lhes pelo convívio e pelo aprendizado mútuo, ao tempo em que os parabenizo pela competência e pelo êxito alcançado nesta caminhada, desejando-lhes sucesso nos novos desafios que estão por vir. É isso: em nossa “travessia”, somos constantemente convidados e autoconvidados a “tocar em frente”. Que Deus proteja a todos vocês. Muito obrigado!

NOTAS E REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
(1) Os concludentes da referida solenidade são os seguintes: curso de Ciências Biológicas – Antônia Íris Gonçalves Oliveira, Eveline Reis Gonçalves Lima, Kennedy Santos Feitoza, Luiza Jéssyca Ribeiro de S. Fernandes, Reginaldo Pereira Fernandes Ribeiro, Vanessa Martins Feitosa, Vicente de Paula Bezerra Neto e Washington Joaquim Lira Fernandes; curso de Pedagogia – Adriana Rosenda de Amorim, Alex Pereira Sales, Anna Cristina Félix de O. Rodrigues, Antônia Cleya Gomes dos Santos, Antônia Costa do Nascimento, Antônio Assilon Freire Gonzaga, Cleidiane Sobreira de Sousa, Damião Gonçalves de Almeida, Elisângela Fernandes da Silva, Elizabete Medeiros Caracas, Geanes Rodrigues de Sousa, Gleide Setúbal Lima, Heldo da Silva Mendonça, Jakline de Castro Alves, Janaína Rolim Gonçalves, José Ademir Casusa Sampaio, Karla Gonçalves de Oliveira, Leidilene Alves Torquato, Maria de Lourdes Machado N. Neta, Maria do Carmo Alves do Nascimento, Maria Josivânia Rodrigues Cavalcante, Maria Juraci Ferrer Feitosa Neta, Maria Selma de Mendonça, Maria Silvana Gomes Parente, Patrícia Kívia Martins de Oliveira, Rogermo Tertuliano de Melo, Sebastião Setúbal da Silva, Siuvanilda Gomes de Sousa, Vera Lúcia Martins de Oliveira, Vilmara Gonçalves das Chagas e Weslianny Vieira Martins Fernandes. curso de Química – Alice Cibele Lira M. Martins, Antonia Inaura Rodrigues Cavalcante, Edivânio Rodrigues de Souza, Francisco Neyrivan de Sousa Pereira, Gerlan Teixeira Cavalcante, Kelviane Cristina Almeida Machado, Lucas André Cavalcante Mota e Pátia Bezerra de Paula Cavalcante.
(2) ARAÚJO, Antonio Abílio. O processo de criação do CECITEC no âmbito da política de interiorização da Universidade Estadual do Ceará. Relatório de projeto de Iniciação Científica – UECE/CECITEC. Tauá, CE, 2005. 138p.
(3) Cf. LIMA, J. A. V. Gestão Acadêmica na UECE e Interiorização: A experiência do CECITEC. 1999, 102f. Monografia (Especialização em Gestão Escolar) – UECE/PROPGPq. Tauá, CE, 1999.
(4) O polo da UAB de Tauá, de 2008 a 2013, através da UECE, UFC e do IFCE, ofertou seis cursos de graduação (licenciaturas em Letras/Português, Letras/Espanhol, Matemática, Informática e Física e bacharelado em Administração) e quatro cursos de especialização (Educação de Jovens e Adultos, Gestão Pública, Coordenação Pedagógica e Gestão Escolar).
(5) O campus do IFCE de Tauá foi inaugurado em 20 de novembro de 2009.
(6) MARCOVITCH, J. A universidade (im)possível. 2. ed. São Paulo: Futura, 1998. p. 34.
(7) Em 16 de maio de 2013, em solenidade que contou com as presenças do então reitor, professor Francisco de Assis Moura Araripe, e do vice-governador do Estado, Domingos Gomes de Aguiar Filho, foi lançada a pedra fundamental da reforma, ampliação e construção do CECITEC, correspondendo a uma área de 3.406 m², com pavimentos térreo e superior. (Cf. http://www.taua.ce.gov.br/noticias/lancada-a-pedra-fundamental-da-reforma-do-cecitec-em-taua).   
(8) O programa Cidade Digital de Tauá foi implantado em meados de 2006, em parceria com o Ministério das Comunicações. A repercussão de suas ações em inclusão digital renderam ao Município várias premiações, com destaque para: Prêmio SEBRAE Prefeito Empreendedor (1º lugar na categoria Região Nordeste) – edição 2007/2008; Prêmio Iberoamericano de Cidades Digitais (2º lugar) – edição 2008; Prêmio ARede (1º lugar na categoria Municípios) – edição 2008; Prêmio Ceará de Cidadania Eletrônica (1º lugar) – edição 2008/2009.
(9) O professor Francisco de Assis Moura Araripe tomou posse como reitor da UECE em 26 de maio de 2008, após ficar em 1º lugar em consulta realizada à comunidade acadêmica dessa Universidade.
(10) O ambientalista tauaense Joaquim de Castro Feitosa, popularmente conhecido como Dr. Feitosinha (1915-2003), pronunciou a citada frase em alguns eventos ocorridos no CECITEC, quando o professor Araripe ocupava o cargo de vice-reitor (1996-2003). Vale ressaltar que Dr. Feitosinha integrou o grupo de apoio para a criação do CECITEC (1994/95) e participava, com muita frequência, das solenidades realizadas por esse Centro.

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