FUNDAMENTOS BÁSICOS E CAMINHOS ESTRATÉGICOS PARA O CECITEC NO CONTEXTO DE (RE)CONSTRUÇÃO DE SEU PAPEL NO SERTÃO DOS INHAMUNS
(Discurso proferido na solenidade de colação de grau da UECE/CECITEC, em Tauá, em 17 de julho de 2008).
Considerações iniciais
A convite de turmas anteriores de
concludentes, tive a honra, em outras ocasiões, de participar das colações de
grau como orador docente. A partir dessa dignificante incumbência, tive a
oportunidade de versar sobre a temática Universidade, destacando o seu percurso
histórico, o perfil das instituições brasileiras, a sua relação com a
sociedade, alternativas de políticas universitárias, o papel da interiorização,
além de outras questões que a ela se relacionam.
Hoje, nesta nobre sessão de colação de grau
de 48 (quarenta e oito) concludentes dos cursos de Ciências Biológicas,
Pedagogia e Química(1), tenho, mais uma vez, a grata deferência de
falar. E, novamente, abordarei acerca da instituição universitária, cuja
temática, ao sabor do pluralismo e do debate acadêmico, não se esgota e nos
instiga com seu poder de renovação. A Universidade, que tem na tradição aos
seus princípios a marca de sua longevidade, sem perder a capacidade de renovar
paradigmas, tem sobrevivido, ao longo se seus novecentos anos, a crises
conjunturais, estruturais e pontuais.
Mas, optei por um recorte maior da temática
em pauta, concentrando-me exatamente em nosso espaço mais próximo, ou seja, em
nossa Unidade, em nosso CECITEC.
CECITEC: dez pontos para a “reconstrução”
O CECITEC materializou-se em 1995, graças ao
compromisso institucional de interiorização da UECE, ao projeto de gestão do
saudoso Reitor Paulo Petrola [1941-2004]
e à organização e à determinação da sociedade local(2). Não resta
dúvida, que o início de nossas atividades acadêmicas representou uma conquista
de valor imensurável para Tauá e para o Sertão dos Inhamuns, haja vista as
oportunidades que à época se criavam e se projetavam a partir da estrutura
universitária em nossas hostes.
Senhoras e senhores; caros concludentes: Se,
por um lado, estamos vivendo um momento de esperança; por outro, estamos com a
necessidade, sob a égide da reconstrução, de retomar fundamentos básicos da
gestão, redesenhar caminhos estratégicos, inserir e motivar a sociedade civil
no processo, recuperar nossa importância no cenário microrregional e mostrar
competência, em face da velocidade que vem movendo o conhecimento e os anseios
das pessoas.
Sob essa ótica de reconstrução, a meu juízo,
o CECITEC precisa se atentar para alguns aspectos, os quais descreverei a
seguir:
1º - Precisamos, de imediato, retomar a
prática do planejamento participativo estratégico, ancorada na lógica da
processualidade e no binômio ação/reflexão. O planejamento sinaliza para a
legitimidade das ações e para a responsabilidade e organização técnica,
gerencial, política e acadêmica.
2º - O CECITEC precisa recuperar o seu papel
de liderança e de instituição estratégica no contexto microrregional, a partir
da reabertura do diálogo com a sociedade civil e da execução de ações que
contemplem a missão universitária e as demandas sociais.
3º - Necessitamos, com urgência, recuperar o
nosso eco interno, para a partir dele, provocar repercussões externas. É isso
mesmo, o nosso Eco Acadêmico (uma alusão ao periódico publicado pelos Centros
Acadêmicos entre 1999 a 2001, que está fazendo muita falta). Nesse sentido,
urge que restabeleçamos a regularidade do funcionamento de nossos órgãos
colegiados e que nossos estudantes, de forma autônoma, fortaleçam seus órgãos
representativos. Compreendo que o somatório de forças em torno de um projeto
maior, resguardado o princípio da autonomia de cada categoria, resultará em um
maior dinamismo interno, na animação do processo acadêmico, na qualidade dos
serviços e no fortalecimento institucional e democrático.
4º - É imperioso, como destaquei
anteriormente, que seja restabelecido o diálogo do CECITEC com a sociedade
civil. Aliás, essa integração foi imprescindível para sua fundação e para sua
afirmação, na fase inicial de atividades. Com efeito, o isolamento intramuros
aponta para um contracaminho da missão universitária. Ressalto que a defesa da
autonomia não dispensa a universidade de se integrar com os diferentes núcleos
sociais e de prestar contas dos serviços que ela oferece. Esse diálogo pode se
concretizar e se fortalecer de várias formas, incluindo as atividades de
planejamento, os ciclos de debates, a representação nos conselhos
administrativos, as ações extensionistas, dentre outras.
5º - É tempo de a UECE projetar a expansão
qualitativa e quantitativa dos cursos de graduação dos campi além-Capital. Precisamos ir além das licenciaturas, que, por
uma questão de justiça, ao longo de três décadas, vêm cumprindo um relevante
papel na formação de professores no interior, para as áreas humanas e exatas.
Em nosso caso particular, em 1995, quando iniciamos as atividades, era
pouquíssimo o número de professores com formação superior que atuava no
magistério(3). Nesse sentido, o CECITEC cumpriu e continua cumprindo
o papel de formar bem os profissionais, para exercerem a docência e atividades
correlatas. Mas, a dinâmica histórica requer avanços e adequação às novas
demandas, sem que isso signifique desrespeito aos princípios e à própria
história. Em meio às mudanças, Tauá atualmente, conta com os serviços de outras
cinco instituições de ensino superior, por meio da iniciativa privada. Além
disso, está previsto para este ano [2008]
o início de cursos em regime semipresencial, no âmbito do programa
Universidade Aberta do Brasil (UAB)(4), através de parceria entre
Prefeitura, MEC e outras instituições; bem como o funcionamento do CEFET [hoje, Instituto Federal de Educação,
Ciências e Tecnologia do Ceará/IFCE], a partir de 2009/2010(5).
Essas novas iniciativas não podem ser encaradas pela lógica da concorrência
mercadológica, mas sob a ótica de que há muitos espaços e demandas para a
implantação de políticas universitárias, incluindo a oferta de novos cursos de
graduação, tanto em nível de licenciatura, como de bacharelado e dos
denominados cursos tecnológicos.
6º - Precisamos, também, recuperar nosso
papel extensionista, como forma de chegarmos mais próximo do povo, com a
popularização do saber. Entendo que em se tratando de uma unidade universitária
interiorana, é ainda maior a responsabilidade em torno de uma política de
extensão que leve em conta as vocações, as culturas e as demandas locais.
Recorro, a propósito, a Jacques Marcovitch: “A extensão é uma via para a
universidade transferir ao conjunto social o que ela tem de mais consolidado,
em termos de ensino e pesquisa. À medida em que ela se consolida nessas áreas,
vai gerando na sociedade a expectativa de ter acesso a esse conhecimento
extracurricular”(6).
7º - A pesquisa, a iniciação científica e a
pós-graduação também precisam ser incorporadas ao nosso cotidiano. O CECITEC,
sob o risco de comprometer seu papel de liderança, precisa estar atento acerca
do potencial gerado a partir da disseminação dos cursos de graduação, da
evolução infraestrutural e dos conceitos na administração local e das novas
expectativas geradas.
8º - Em que pese o fato de estarmos em sede
própria desde o início das atividades, é notória a deficiência de nossas
instalações físicas. Assim sendo, a UECE, em parceria com o Governo do Estado,
precisa com urgência projetar a ampliação e a modernização de nossa
infraestrutura(7).
9º - Não podemos ficar à margem dos
investimentos na área da tecnologia da informação. A impressão que tenho é que
nos últimos quatro anos [de 2004 a 08],
a UECE, em particular esta Unidade, ficou anestesiada em meio à velocidade
tecnológica. Nesse sentido, com um pouco de criatividade e com nossa capacidade
interinstitucional, podemos, em parceria, com a SECITECE, o CENTEC, o SEBRAE e
a Prefeitura local, além de outros órgãos governamentais e não governamentais,
estabelecer projetos em TI que venham fortalecer as nossas ações e atrair novos
investimentos. Abrimos um parêntese para destacar que Tauá, sob a liderança da
Prefeita Patrícia Aguiar, tornou-se destaque por conta da ousadia planejada,
consciente e determinada de ser a primeira Cidade Digital do Nordeste(8).
10º - Precisamos valorizar nossa história e
nossa produção acadêmica. Desse modo, é viável que conclamemos nossos ex-alunos
e nossas ex-alunas para estabelecerem uma cruzada de propagação do que já
construímos e do que podemos construir e para o que podemos contribuir. Caras e
caros concludentes, vocês, certamente, vivenciaram e sofreram muitas
dificuldades. Mas, torcemos para que as dificuldades, que se transformaram em
desafios, resultem no fortalecimento do vínculo de todos vocês com este Centro.
A esperança no CECITEC: a título de considerações finais
Magnífico Reitor [Prof. Francisco de Assis Moura Araripe], senhor Diretor [Prof. Antonio Charles Silvério]. Neste
início de reitorado(9), são muitos os desafios que estão postos e
que estão sendo aguardados pela sociedade.
É evidente que o êxito de um projeto de gestão depende de uma correlação
de fatores. No entanto, a capacidade administrativa e o compromisso
institucional dos gestores são fatores que fazem a diferença no enfrentamento
dos desafios.
Magnífico Reitor, professor Araripe, conheço
a seriedade de Vossa Magnificência e sua identificação com a UECE e seu
processo de interiorização. Citando nosso saudoso Joaquim de Castro Feitosa, “o
Araripe é um homem que não tem medo do interior”(10). É por isso que
o nosso discurso, nesta noite, reveste-se de esperança para que o CECITEC
recupere a sua pujança, no contexto microrregional e estadual e se estabeleça,
de forma planejada e processual, com novos projetos e novas atitudes.
Certamente, saberemos a quem cobrar!
Caras e caros
concludentes, resta-me agradecer-lhes pelo convívio e pelo aprendizado mútuo,
ao tempo em que os parabenizo pela competência e pelo êxito alcançado nesta
caminhada, desejando-lhes sucesso nos novos desafios que estão por vir. É isso:
em nossa “travessia”, somos constantemente convidados e autoconvidados a “tocar
em frente”. Que Deus proteja a todos vocês. Muito obrigado!
NOTAS
E REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
(1)
Os
concludentes da referida solenidade são os seguintes: curso de Ciências
Biológicas – Antônia Íris Gonçalves Oliveira, Eveline Reis Gonçalves Lima,
Kennedy Santos Feitoza, Luiza Jéssyca Ribeiro de S. Fernandes, Reginaldo
Pereira Fernandes Ribeiro, Vanessa Martins Feitosa, Vicente de Paula Bezerra
Neto e Washington Joaquim Lira Fernandes; curso de Pedagogia – Adriana Rosenda
de Amorim, Alex Pereira Sales, Anna Cristina Félix de O. Rodrigues, Antônia
Cleya Gomes dos Santos, Antônia Costa do Nascimento, Antônio Assilon Freire
Gonzaga, Cleidiane Sobreira de Sousa, Damião Gonçalves de Almeida, Elisângela
Fernandes da Silva, Elizabete Medeiros Caracas, Geanes Rodrigues de Sousa,
Gleide Setúbal Lima, Heldo da Silva Mendonça, Jakline de Castro Alves, Janaína
Rolim Gonçalves, José Ademir Casusa Sampaio, Karla Gonçalves de Oliveira,
Leidilene Alves Torquato, Maria de Lourdes Machado N. Neta, Maria do Carmo
Alves do Nascimento, Maria Josivânia Rodrigues Cavalcante, Maria Juraci Ferrer
Feitosa Neta, Maria Selma de Mendonça, Maria Silvana Gomes Parente, Patrícia
Kívia Martins de Oliveira, Rogermo Tertuliano de Melo, Sebastião Setúbal da Silva,
Siuvanilda Gomes de Sousa, Vera Lúcia Martins de Oliveira, Vilmara Gonçalves
das Chagas e Weslianny Vieira Martins Fernandes. curso de Química – Alice
Cibele Lira M. Martins, Antonia Inaura Rodrigues Cavalcante, Edivânio Rodrigues
de Souza, Francisco Neyrivan de Sousa Pereira, Gerlan Teixeira Cavalcante,
Kelviane Cristina Almeida Machado, Lucas André Cavalcante Mota e Pátia Bezerra
de Paula Cavalcante.
(2)
ARAÚJO,
Antonio Abílio. O processo de criação do CECITEC no âmbito da política de
interiorização da Universidade Estadual do Ceará. Relatório de projeto de
Iniciação Científica – UECE/CECITEC. Tauá, CE, 2005. 138p.
(3)
Cf.
LIMA, J. A. V. Gestão Acadêmica na UECE e Interiorização: A experiência do
CECITEC. 1999, 102f. Monografia (Especialização em Gestão Escolar) –
UECE/PROPGPq. Tauá, CE, 1999.
(4)
O
polo da UAB de Tauá, de 2008 a 2013, através da UECE, UFC e do IFCE, ofertou seis
cursos de graduação (licenciaturas em Letras/Português, Letras/Espanhol,
Matemática, Informática e Física e bacharelado em Administração) e quatro
cursos de especialização (Educação de Jovens e Adultos, Gestão Pública,
Coordenação Pedagógica e Gestão Escolar).
(5)
O
campus do IFCE de Tauá foi inaugurado em 20 de novembro de 2009.
(6)
MARCOVITCH,
J. A universidade (im)possível. 2. ed. São Paulo: Futura, 1998. p. 34.
(7) Em 16 de
maio de 2013, em solenidade que contou com as presenças do então reitor,
professor Francisco de Assis Moura Araripe, e do vice-governador do Estado,
Domingos Gomes de Aguiar Filho, foi lançada a pedra fundamental da reforma,
ampliação e construção do CECITEC, correspondendo a uma área de 3.406 m², com
pavimentos térreo e superior. (Cf. http://www.taua.ce.gov.br/noticias/lancada-a-pedra-fundamental-da-reforma-do-cecitec-em-taua).
(8)
O
programa Cidade Digital de Tauá foi implantado em meados de 2006, em parceria
com o Ministério das Comunicações. A repercussão de suas ações em inclusão
digital renderam ao Município várias premiações, com destaque para: Prêmio
SEBRAE Prefeito Empreendedor (1º lugar na categoria Região Nordeste) – edição
2007/2008; Prêmio Iberoamericano de Cidades Digitais (2º lugar) – edição 2008;
Prêmio ARede (1º lugar na categoria Municípios) – edição 2008; Prêmio Ceará de
Cidadania Eletrônica (1º lugar) – edição 2008/2009.
(9)
O
professor Francisco de Assis Moura Araripe tomou posse como reitor da UECE em
26 de maio de 2008, após ficar em 1º lugar em consulta realizada à comunidade
acadêmica dessa Universidade.
(10) O
ambientalista tauaense Joaquim de Castro Feitosa, popularmente conhecido como
Dr. Feitosinha (1915-2003), pronunciou a citada frase em alguns eventos ocorridos
no CECITEC, quando o professor Araripe ocupava o cargo de vice-reitor
(1996-2003). Vale ressaltar que Dr. Feitosinha integrou o grupo de apoio para a
criação do CECITEC (1994/95) e participava, com muita frequência, das
solenidades realizadas por esse Centro.
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