ISSO SE VÊ NO SERTÃO / DEPOIS DA TERRA MOLHADA
(João Paraibano e Sebastião Dias)
Esse mote foi cantado de improviso pelo notáveis cantadores João Paraibano e Sabastião Dias, no 4º Desafio Nordestino de Cantadores, em Recife. Vejam que primor poético!
JP - Feijão
de corda e ligeiro
Uns
catando, outros batendo
Arco-íris
espremendo
A barra
do nevoeiro
Riacho
enchendo barreiro
Sapo
fazendo enxurrada
Jia
cantando sentada
Na
tampa de um cacimbão.
ISSO SE
VÊ NO SERTÃO
DEPOIS
DA TERRA MOLHADA.
SD - Quando
a tarde fica escura
No
tempo que está chovendo
Vê-se
um menino correndo
Atrás
de uma tanajura
Ele
sobe e perde altura
Devido
a bunda pesada
Voa
baixo e cai cansada
Que a
bunda estoura no chão.
ISSO SE
VÊ NO SERTÃO
DEPOIS
DA TERRA MOLHADA.
JP - Ninho
de fura-barreira
Na
barreia do riacho
Nambu
cantando debaixo
Das
moitas da capoeira
Velho
tapando goteira
Descendo
e subindo escada
Uma
lata enferrujada
Pra
bica tocar baião.
ISSO SE
VÊ NO SERTÃO
DEPOIS
DA TERRA MOLHADA.
SD - Quando
a manhã mostra o brilho
Um sertanejo
contente
Enche as cuias de semente
Vai pra
roça e leva o filho
Coloca
três grãos de milho
Na cova
da terra arada
E na
mesma cova cavada
Bota
mais três de feijão.
ISSO SE
VÊ NO SERTÃO
DEPOIS
DA TERRA MOLHADA.
JP - A
água turva e revolta
Da
terra ensopando o seio
Riacho
gemente cheio
A mata
de folha envolta
Canjica
cozinha solta
Pamonha
ferve amarrada
A palha
verde emendada
Mostra
o nó que os dedos dão.
ISSO SE
VÊ NO SERTÃO
DEPOIS
DA TERRA MOLHADA.
SD - Quando
tem rama na flora
Aí o
caboclo diz
Que
agora ficou feliz
Porque
já chegou melhora
Pego os
ferros e se acocora
Debaixo
de uma latada
Dá
pancada na enxada
Que o
martelo cai da mão.
ISSO SE
VÊ NO SERTÃO
DEPOIS
DA TERRA MOLHADA.
JP - A
voz do galo desperta
Os portadores da brenha
Por
curvas que o rio tenha
Se
arrastando a água acerta
Em cada
uma cova aberta
Uma
semente é plantada
E a
terra grávida se enfada
Com o
peso da gestação.
ISSO SE
VÊ NO SERTÃO
DEPOIS
DA TERRA MOLHADA.
SD - O
campônio à terra ajeita
Bota
veneno e saúva
Queima
a broca, espera a chuva
Em
março a planta está feita
Mês de
junho é a colheita
De
feijão e pamonhada
Em
agosto a farinhada
Em
outubro o algodão.
ISSO SE
VÊ NO SERTÃO
DEPOIS
DA TERRA MOLHADA.
JP - O
trovão fala no centro
Menino
cai do beliche
Velho
vendendo maxixe
Velha
arrancando coentro
A mosca
voa e cai dentro
De um
caldeirão de coalhada
Transa
morrendo afogada
No
leito de um caldeirão
ISSO SE
VÊ NO SERTÃO
DEPOIS
DA TERRA MOLHADA.
SD
- Açude estoura a comporta
Que a
força da cheia obriga
Nesse
período a formiga
Corta a
verdura da horta
Guarda um pouco do que corta
Por
estar necessitada
E a
outra parte é guardada
Que é
pra comer no verão.
ISSO SE
VÊ NO SERTÃO
DEPOIS
DA TERRA MOLHADA.
JP - Matuto
em cima do muro
Batendo
enxada e fumando
Periquitos
gargalhando
Nos pés
de moleque duro
Galo
ciscando o monturo
Galinha
choca deitada
Pra
defender a ninhada
Do bote
do gavião.
ISSO SE
VÊ NO SERTÃO
DEPOIS
DA TERRA MOLHADA.
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