A "ESQUERDA DEMOCRÁTICA" DE ROBERTO FREIRE
(João Álcimo Viana Lima, em março/2014)
O
deputado Roberto Freire (SP) e presidente nacional do PPS, em artigo publicado
no jornal Brasil Econômico, voltou a falar sobre o que ele compreende e
qualifica como “esquerda democrática” no cenário atual da política brasileira.
Recém-aliado
do governador Eduardo Campos (PE) e presidenciável pelo PSB, Freire rebuscou
alianças entre “comunistas” e “socialistas” no estado de Pernambuco, de onde
ele é natural. Conforme o referido parlamentar: “O alinhamento das forças democráticas de esquerda
representa um reencontro histórico entre os socialistas e o PPS, herdeiro do
Partido Comunista Brasileiro (PCB). Desde a origem do PSB, com a
redemocratização pós-Estado Novo, a aliança com os comunistas se inscreveu em
páginas marcantes da vida política brasileira. Em Pernambuco, um dos estados
mais avançados do país na luta democrática daquele período, essa união levou ao
surgimento da Frente do Recife, movimento que elegeu Pelópidas da Silveira
prefeito da capital, em 1955, e Miguel Arraes governador do estado, em 1962”.
Em meados
de 2011, Roberto Freire, no site do
PPS, escreveu o seguinte: “Creio que no quadro partidário brasileiro, em que a
direita está preocupada em apoiar quaisquer governos e deles participar; o PT
se divide entre mercadismo liberal e social-democracia, e o PSDB vacila na
defesa de seu legado, o desafio da esquerda democrática não é apenas
refundar-se”.
No
Brasil, a definição de um partido ou de um político como sendo de “esquerda”,
“direita”, “comunista”, “socialista”, “liberal” e “social-democrata” ganhou
contornos de muita complexidade nos últimos quinze anos. Credito isso, entre
outros fatores, a composições políticas bastante heterogêneas e ao fato de um
partido autoidentificado como de esquerda está na presidência da República há
quase doze anos. A propósito, a ex-senadora Marina Silva (também, recém-aliada
de Freire), ao criar a Rede Sustentabilidade, disse esta que não se tratava de
um partido “nem direita, nem esquerda”, mas que estava “à frente”.
Esse
“reencontro” histórico mencionado por Freire não passa, a meu juízo, de uma
rememoração histórica, afetiva e ideológica de cinquenta e sessenta anos atrás,
que não provoca ressonância no quadro de alianças desejadas e não encontra
sintonia com o pragmatismo das atuais “forças democráticas de esquerda”
defendidas por ele.
De simpático
(e tolerante) aos governos de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), Roberto Freire,
que apoiou a campanha vitoriosa de Lula (PT) no segundo turno de 2002, adotou,
desde muito cedo, uma postura crítica, transformada depois em oposição
contumaz, ao governo petista. A partir daí, viu-se o PPS como aliado de
primeira hora das coligações que teve o PSDB em primeiro plano e o PFL (atual
DEM) em segundo plano, nas eleições presidenciais de 2006 e 2010.
Retornando
ao seu artigo de 2011, Freire nos dá a entender que os partidos de direita são
aqueles (e tantos) fisiologistas, sempre aliados do governo do momento, seja
ele qual for. Relembrando o alinhamento do PPS nas últimas eleições, resta-nos
indagar ao seu presidente se nessa “refundação” das “forças democráticas de
esquerda”, há espaço para a inclusão do DEM, partido defensor do “mercadismo
liberal” e marcado por posições conservadoras.
Roberto Freire: "Simpático e tolerante" dos governos de FHC e opositor contumaz dos governos do PT. |
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