sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

A "ESQUERDA DEMOCRÁTICA" DE ROBERTO FREIRE.

A "ESQUERDA DEMOCRÁTICA" DE ROBERTO FREIRE


(João Álcimo Viana Lima, em março/2014)

O deputado Roberto Freire (SP) e presidente nacional do PPS, em artigo publicado no jornal Brasil Econômico, voltou a falar sobre o que ele compreende e qualifica como “esquerda democrática” no cenário atual da política brasileira.

Recém-aliado do governador Eduardo Campos (PE) e presidenciável pelo PSB, Freire rebuscou alianças entre “comunistas” e “socialistas” no estado de Pernambuco, de onde ele é natural. Conforme o referido parlamentar: “O alinhamento das forças democráticas de esquerda representa um reencontro histórico entre os socialistas e o PPS, herdeiro do Partido Comunista Brasileiro (PCB). Desde a origem do PSB, com a redemocratização pós-Estado Novo, a aliança com os comunistas se inscreveu em páginas marcantes da vida política brasileira. Em Pernambuco, um dos estados mais avançados do país na luta democrática daquele período, essa união levou ao surgimento da Frente do Recife, movimento que elegeu Pelópidas da Silveira prefeito da capital, em 1955, e Miguel Arraes governador do estado, em 1962”.

Em meados de 2011, Roberto Freire, no site do PPS, escreveu o seguinte: “Creio que no quadro partidário brasileiro, em que a direita está preocupada em apoiar quaisquer governos e deles participar; o PT se divide entre mercadismo liberal e social-democracia, e o PSDB vacila na defesa de seu legado, o desafio da esquerda democrática não é apenas refundar-se”.

No Brasil, a definição de um partido ou de um político como sendo de “esquerda”, “direita”, “comunista”, “socialista”, “liberal” e “social-democrata” ganhou contornos de muita complexidade nos últimos quinze anos. Credito isso, entre outros fatores, a composições políticas bastante heterogêneas e ao fato de um partido autoidentificado como de esquerda está na presidência da República há quase doze anos. A propósito, a ex-senadora Marina Silva (também, recém-aliada de Freire), ao criar a Rede Sustentabilidade, disse esta que não se tratava de um partido “nem direita, nem esquerda”, mas que estava “à frente”.

Esse “reencontro” histórico mencionado por Freire não passa, a meu juízo, de uma rememoração histórica, afetiva e ideológica de cinquenta e sessenta anos atrás, que não provoca ressonância no quadro de alianças desejadas e não encontra sintonia com o pragmatismo das atuais “forças democráticas de esquerda” defendidas por ele.   

De simpático (e tolerante) aos governos de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), Roberto Freire, que apoiou a campanha vitoriosa de Lula (PT) no segundo turno de 2002, adotou, desde muito cedo, uma postura crítica, transformada depois em oposição contumaz, ao governo petista. A partir daí, viu-se o PPS como aliado de primeira hora das coligações que teve o PSDB em primeiro plano e o PFL (atual DEM) em segundo plano, nas eleições presidenciais de 2006 e 2010.

Retornando ao seu artigo de 2011, Freire nos dá a entender que os partidos de direita são aqueles (e tantos) fisiologistas, sempre aliados do governo do momento, seja ele qual for. Relembrando o alinhamento do PPS nas últimas eleições, resta-nos indagar ao seu presidente se nessa “refundação” das “forças democráticas de esquerda”, há espaço para a inclusão do DEM, partido defensor do “mercadismo liberal” e marcado por posições conservadoras.

Roberto Freire: "Simpático e tolerante" dos governos de FHC e opositor contumaz dos governos do PT.

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