domingo, 5 de fevereiro de 2017

"BRASIL RICO DE CULTURA, MAS POBRE DE CONSCIÊNCIA", DE JOÃO ÁLCIMO.

BRASIL RICO DE CULTURA, MAS POBRE DE CONSCIÊNCIA

(João Álcimo Viana)


Brasil da raça nativa,
Com seus ritos e sistemas,
Sem Estado e sem algemas,
Mas com força criativa;
Porém o branco lhe priva
Com chumbo e com penitência,
Destruindo sua essência
No jugo de outra estrutura.
Brasil rico de cultura
Mas pobre de consciência.

Brasil que foi construído
Com o negro escravizado,
Que nos deixou um legado
Que não será destruído;
Mas não é reconhecido
E é posto na indigência,
Recebendo com freqüência
O açoite da escravatura.
Brasil rico de cultura
Mas pobre de consciência.

Brasil berço de Machado,
O ícone do Realismo;
Brasil de um regionalismo
Descrito por Jorge Amado;
Brasil de Celso Furtado,
Que no mundo é referência;
Mas que despreza a ciência
E ofusca a literatura.
Brasil rico de cultura
Mas pobre de consciência.

Brasil palco do forró,
De Luís, Rei do Baião,
De Catulo da Paixão,
Pátria-mãe do carimbo;
Mas “eguinha pocotó”,
Sem conteúdo e cadência
Faz Chacrinha com veemência
Tremer-se na sepultura.
Brasil rico de cultura
Mas pobre de consciência.

Brasil que deixa à mercê
A cultura popular
E prefere se ligar
Na escória do BBB;
Meu Brasil onde a TV
Pra conquistar audiência
Apela para a indecência
Com pífia desenvoltura.
Brasil rico de cultura
Mas pobre de consciência.

Brasil que foi planejado
Por Rui e Gonçalves Ledo,
Por Frei Caneca e Tancredo
E por JK governado;
Mas que foi penalizado
Com máfias na Previdência
E com a grave conseqüência
Dos porões da ditadura.
Brasil rico de cultura
Mas pobre de consciência.

Brasil de pátrios projetos,
Como os de Darcy Ribeiro,
Mas buscou no estrangeiro
Transplantes vis/incorretos;
Brasil dos analfabetos,
Evasão e repetência,
Mas destinou a tendência
De Paulo Freire à censura.
Brasil rico de cultura
Mas pobre de consciência.

Brasil templo do “Padim” –
O Padre Cícero Romão,
Mas que teve o seu sermão
Cassado por Dom Joaquim;
Brasil que deu triste fim
Com as marcas da onipotência
A uma nova experiência
Que Conselheiro inaugura.
Brasil rico de cultura
Mas pobre de consciência.

Brasil do Norte/Nordeste,
De Amazônia e Sertões,
Mas que sofre restrições
Em prol do Sul e Sudeste;
E o nosso “cabra-da-peste”
Padece com a negligência,
Restando-lhe a Providência
Para ungir sua bravura.
Brasil rico de cultura
Mas pobre de consciência.

Brasil das contradições -
Riqueza e desigualdade;
Brasil da diversidade,
Mas das discriminações;
Para as novas gerações
O teor da Inconfidência
Pauta-se na delinquência,
Na propina e na usura.
Brasil rico de cultura
Mas pobre de consciência.

João Álcimo Viana

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