sexta-feira, 14 de março de 2014

EDUCAÇÃO EM TEMPOS DE TECNOLOGIAS | Professor João Álcimo

EDUCAÇÃO EM TEMPOS DE TECNOLOGIAS


(Discurso proferido por João Álcimo Viana Lima, em Tauá, em 30/10/2013, no lançamento do livro “Formação de professores para as tecnologias digitais: software livre e educação a distância”).

Oportunamente um grupo de professores pesquisadores, sob a organização de João Batista Carvalho Nunes e Luisa Xavier de Oliveira, lança o livro “Formação de professores para as tecnologias digitais: software livre e educação a distância”. A obra, impressa em dois volumes, contém 15 textos ou capítulos da lavra de 17 autores.
Destes, honra-nos com suas presenças no lançamento do referido livro, a tauaense Luisa Xavier de Oliveira (professora da UFPI, doutoranda em educação pela UFRJ e pedagoga integrante da primeira turma de alunos do CECITEC); o tauaense Vicente de Paulo Alves dos Santos (diretor da Agência Ambiental para Administração Pública, ex-secretário executivo da SECULT, especialista em Gestão e Auditoria em Finanças Pública e pedagogo pelo CECITEC); a parambuense/tauaense Marluce Torquato Lima Gonçalves (professora da UECE, mestra em educação pela UECE, pedagoga integrante da segunda turma de alunos do CECITEC e coordenadora da CREDE XV); Viviani Maria Barbosa Sales (professora do Laboratório de Informática da rede municipal de ensino de Fortaleza e mestra em educação pela UECE); e João Batista Carvalho Nunes (doutor em Filosofia e Ciências da Educação pela Universidade de Santiago da Compostela, professor do programa de pós-graduação em Educação e do mestrado profissional em Computação Aplicada da UECE, ex-pró-reitor de graduação e de pós-graduação e pesquisa das UECE).
O livro foi concretizado sob a égide do grupo de pesquisa Laboratório de Tecnologia Educacional e Software Livre (LATES), criado em 2005, no âmbito do Centro de Educação da Universidade Estadual do Ceará, por meio da competente liderança acadêmica do professor João Batista Carvalho Nunes. Realizando pesquisas coletivas com diferentes metodologias, a produção do saber gerada pelo LATES, a partir de seus integrantes, tem sinalizado para perspectivas de aplicação de seus resultados. Hoje, Tauá tem o privilégio de ser a primeira cidade a lançar esta obra.
Como o próprio título já nos diz, o livro trata de formação de professores para as tecnologias digitais. Como citei, o grupo LATES, que foi o seu gerador, está vinculado ao Centro de Educação da UECE. Dos 17 autores, 12 deles são professores e/ou foram alunos de graduação ou pós-graduação da UECE. Essa relação não comprometeu o espírito livre das pesquisas, conforme constatamos. No texto “Tecnologias digitais, política educacional e formação de professores”, João Batista Carvalho Nunes infere que: “As instituições formadoras de nível superior precisam, além de inclusão de disciplinas e conteúdos sobre o uso das TICs em seus currículos de licenciaturas, incluindo a Pedagogia, oferecer instalações físicas e recursos humanos e materiais adequados a uma formação científica e tecnológica do futuro professor” (p. 45, v.1).
No texto “Formação de professores para a EaD: o uso das TICs em questão”, Viviani Maria Barbosa Sales e João Batista Carvalho Nunes revelam a constatação que no curso de Pedagogia da UAB/UECE, “na maioria dos casos, o docente passa a fazer parte de equipes de curso online sem ter conhecimento do que é necessário para se apropriar de forma intensa das possibilidades trazidas pelas redes tecnológicas” (p. 132, v.1).
Os autores defendem enfaticamente o uso das tecnologias digitais como “ferramenta e complemento, dentro e fora da escola”, que, contudo, conforme João Batista Carvalho Nunes e Luisa Xavier de Oliveira, não podem ser pensadas “como substituta do trabalho docente do professor e do sistema escolar” (p. 15-16). De fato, as TICs nos levam a uma ressignificação do trabalho docente. Aqui, lembro a filósofa Viviane Mosé, que disse: “É impossível em sala de aula o professor ser maior que o google”. Os textos evidenciam não somente a defesa da disseminação das tecnologias da informação e comunicação no contexto educacional (na educação básica e educação superior), mas, também, um conjunto de fatores, concebidos por meio das pesquisas, que são necessários para fortalecê-las e consolidá-las, tais como: compromisso dos gestores públicos e dos educadores, políticas educacionais, formação inicial e continuada de professores, fundamentação pedagógica, estruturação física e tecnológica e adoção de softwares livres. No campo das advertências, o livro enfatiza, por exemplo, que a EaD, proveniente das tecnologias digitais, não “será a panaceia para os problemas de acesso à educação e baixo rendimento de parcela expressiva da população brasileira” (p. 134). Outra advertência que destaco: “É preciso fugir do paradigma da educação tradicional e não usar tecnologias novas com metodologias velhas” (p. 133).
Permitam-me concentrar-me, agora, em dois textos que falam de Tauá: “A adoção do software livre e política de inclusão digital”, de João Batista Carvalho Nunes, Gláucia Mirian de Oliveira Souza e Luisa Xavier de Oliveira; e “Formação de professores e inclusão digital: o uso do software livre”, de Luisa Xavier de Oliveira, João Batista Carvalho Nunes e Vicente de Paulo Alves dos Santos. No contexto da pesquisa que resultou nesses dois artigos, os autores citam o programa Cidade Digital, implantado, de forma planejada e ousada, em 2006, na gestão da segunda gestão da prefeita Patrícia Aguiar. Tive o privilégio de coordenar esse desafio que se materializou. Faço um adendo que os dois CCT’s (ou laboratórios de informática) implantados e que estão citados (p. 86, v. 1) foram expandidos para 76 na última gestão. Destaco, dos autores, o seguinte comentário: “Foi possível aferir que os docentes compreendem o uso do software livre na educação muito mais do que a possibilidade de inserção das TIC’s na educação, mas também como opção por ideias de inclusão social dos professores e alunos das camadas sociais menos favorecidas economicamente, que passam a ter acesso a programas de qualidade atualizados”.  (p. 103, v.1).
O volume 2 do livro relaciona a prática de software livre com a formação dos professores, incluindo as áreas de Geometria e Língua Portuguesa, o letramento digital, EJA, bem como os gestores escolares.
Marluce Torquato Lima Gonçalves, em seu texto “TIC’s: o uso integrado da Língua Portuguesa na escola”, estuda a repercussão das tecnologias digitais na aprendizagem dos alunos da rede estadual de ensino da CREDE 15, mais especificamente em Tauá, tendo por base os resultados do SPAECE (Sistema Permanente de Avaliação da Educação Básica do Ceará). Aqui, a autora compartilha, em forma de pesquisa e de produção textual, os desafios por ela coordenados de elevar os indicadores de aprendizagem das escolas públicas estaduais. Corroboro com minha companheira de UECE: “As TIC’s devem ser incorporadas na escola, com o objetivo de contribuir para expandir o acesso à informação atualizada e de contribuir com a formulação do conhecimento, estabelecendo novas relações com o saber produzido” (p. 58, v.2).
Em meio a uma grande diversidade de possibilidades que temos a partir das TICs, concluo o texto inicial do livro, de Ana Ignez Belém Lima Nunes, Rosemary do Nascimento Silveira e Alessandra Silva Xavier. Ao falarem dos desafios da instituição escolar em tempos de tecnologias, elas destacam questões absolutamente pertinentes e que, portanto, merecem nossa atenção: “A rapidez, a vertigem e a fugacidade permitidas pela rede têm implicações sérias na constituição psíquica de crianças e jovens, que muitas vezes não conseguem mais viver a paciência, a reflexão sobre a existência e, especialmente, o pensar com as próprias ideias sem recortes e colagens”. (p. 19, v.1).
Tempos de tecnologias.
Leiamos os dois volumes desta qualificada obra.
Muito obrigado!

O CENTRO DE IDIOMAS DE TAUÁ E SUA MERECIDA DENOMINAÇÃO | Professor João Álcimo

O CENTRO DE IDIOMAS DE TAUÁ E SUA MERECIDA DENOMINAÇÃO


(Discurso proferido por João Álcimo Viana Lima na solenidade de inauguração da sede própria do Centro Municipal de Idiomas de Tauá (CEMIT) Prof. Luiz Gonzaga Feitosa Lima, em Tauá/Ceará, em 25 de setembro de 2013).


Agradeço, na qualidade de ex-Secretário da Educação, a todos os conselheiros dos três conselhos aqui mencionados (Conselho Municipal da Educação, Conselho de Acompanhamento e Controle Social do FUNDEB e Conselho de Alimentação Escolar), que cumpriram, com dedicação, seus mandatos no biênio 2011/2013. Ao mesmo tempo, parabenizo a todos os conselheiros ora oficialmente empossados, que, a partir da indicação de suas instituições ou de seus pares, estão se propondo ao trabalho em órgãos colegiados e, portanto, de grande relevância para a educação municipal.
A respeito do Centro Municipal de Idiomas de Tauá (CEMIT), criado em 2007 na 2ª gestão da prefeita Patrícia Aguiar, é inconteste a grandeza de sua concepção e implantação. Em um mundo competitivo e de rompimento de fronteiras nacionais, por meio da tecnologia e de acordos transnacionais, o aprendizado de outro idioma, para além da língua pátria, representa enorme significado.
Em Tauá, de forma inovadora, a Prefeitura Municipal, por meio da Secretaria da Educação, implantou este Centro de Idiomas, que se trata de uma Unidade Escolar de atividades complementares, com cursos estruturados em Língua Inglesa e Língua Espanhola.
Este prédio, que se inaugura na data de hoje, está em funcionamento desde o 1º semestre de 2013. Trata-se de mais um sonho concretizado, haja vista que a importância e a dimensão do CEMIT mereciam uma estrutura como esta: moderna e compatível com suas perspectivas de expansão e de ótimo atendimento ao público matriculado. Para essa concretização, registro e agradeço o papel determinante do vice-governador Domingos Filho, da prefeita Patrícia Aguiar, do ex-prefeito Odilon Silveira Aguiar e do deputado Domingos Neto. Agradeço, também, a todos os nossos profissionais que conduziram e conduzem as atividades do CEMIT, em nome de nossa equipe pedagógica da Secretaria da Educação, da diretora Iva Caracas, da coordenadora pedagógica Aparecida Feitosa e da ex-coordenadora Maria Noronha.
Senhoras e senhores, em todos os aspectos que podermos enumerar, este equipamento público educacional está merecidamente denominado de Prof. Luiz Gonzaga Feitosa Lima, o saudoso e imortal Lulu Lima.
Tive o privilégio no período que se iniciou em meados de 1995, quando de minha vinda para Tauá como professor concursado da UECE e já com a missão de ser o primeiro diretor do CECITEC, de ter mantido vários contatos com o professor Lulu Lima, até meados de 1996 (data de seu falecimento). Tive o privilégio, inclusive, de ser hóspede do casal Lulu Lima e Dona Julinha, em meus primeiros dias de Tauá, daí a feliz lembrança e minha enorme gratidão.
Nos contatos com o professor Lulu Lima, admirei-me com o jornalista/escritor, que dirigia e escrevia o jornal Folha dos Inhamuns. Nosso homenageado era um exímio redator. Nos contatos com o professor Lulu Lima, vi-me diante do professor de Letras, que assim como um de seus irmãos, o professor Feitosa, tinha o prazer de discorrer sobre interpretação textual. Encantei-me e fiz algumas parcerias com o poeta, que era rico na expressão e muito preciso na rima e na métrica. Nos contatos com o professor Lulu Lima, soube um pouco de sua experiência como gestor da educação e cultura municipal de Tauá. Contei com seu destacado apoio para o início das atividades do Centro de Educação, Ciências e Tecnologia da Região dos Inhamuns (CECITEC). Maravilhei-me com o grande músico, intérprete e compositor.
Lembro-me que ao vê-lo cantar, indaguei a razão de ele, com todo aquele potencial vocálico (na verdade, um vozeirão na mais completa acepção da palavra), não ter seguido o caminho da profissionalização. Ele, imediatamente, me disse: “Professor Álcimo, canto por diletantismo, não canto por profissão”. Nascido e tornado adulto na época de esplendor da voz grave, dos círculos boêmios e dos festivais musicais, Lulu, com pequena variação de idade para mais ou para menos, foi contemporâneo de vozes consagradas como Cauby Peixoto, Altemar Dutra, Agnaldo Timóteo, Agnaldo Rayol e Moacyr Franco. Lulu, situado em outro espaço geográfico deste país de dimensão continental, estava, no mínimo, no mesmo nível daqueles. Mas, preferiu usar a música para o seu deleite e para o deleite de seus familiares e amigos.
Como compositor, suas músicas cantaram o AMOR, a NATUREZA e o SERTÃO. “Sertão Bonito” está, a meu juízo, equiparada à música “Luar do Sertão”, de Catulo da Paixão Cearense e consagrada na voz de Luiz Gonzaga. “O amanhecer da minha terra” está, no mínimo, no mesmo nível de “No rancho fundo”, de Ary Barroso e Lamartine Babo.
Em outra oportunidade, comentei que Tauá devia uma grande homenagem a Luiz Gonzaga Feitosa Lima, patrono da cadeira nº 5 da Academia Tauaense de Letras, ocupada por mim, com muita honra. Eis que esta homenagem se realiza.
Finalizo declamando o desejo do professor/compositor/poeta: “Como eu queria ser igual a passarada, viajar na alvorada e voltar no anoitecer”.
Muito obrigado!

FUNDAMENTOS BÁSICOS E CAMINHOS ESTRATÉGICOS PARA O CECITEC NO CONTEXTO DE (RE)CONSTRUÇÃO DE SEU PAPEL NO SERTÃO DOS INHAMUNS | Professor João Álcimo

FUNDAMENTOS BÁSICOS E CAMINHOS ESTRATÉGICOS PARA O CECITEC NO CONTEXTO DE (RE)CONSTRUÇÃO DE SEU PAPEL NO SERTÃO DOS INHAMUNS


(Discurso proferido na solenidade de colação de grau da UECE/CECITEC, em Tauá, em 17 de julho de 2008).

 

Considerações iniciais

A convite de turmas anteriores de concludentes, tive a honra, em outras ocasiões, de participar das colações de grau como orador docente. A partir dessa dignificante incumbência, tive a oportunidade de versar sobre a temática Universidade, destacando o seu percurso histórico, o perfil das instituições brasileiras, a sua relação com a sociedade, alternativas de políticas universitárias, o papel da interiorização, além de outras questões que a ela se relacionam.
Hoje, nesta nobre sessão de colação de grau de 48 (quarenta e oito) concludentes dos cursos de Ciências Biológicas, Pedagogia e Química(1), tenho, mais uma vez, a grata deferência de falar. E, novamente, abordarei acerca da instituição universitária, cuja temática, ao sabor do pluralismo e do debate acadêmico, não se esgota e nos instiga com seu poder de renovação. A Universidade, que tem na tradição aos seus princípios a marca de sua longevidade, sem perder a capacidade de renovar paradigmas, tem sobrevivido, ao longo se seus novecentos anos, a crises conjunturais, estruturais e pontuais.      
Mas, optei por um recorte maior da temática em pauta, concentrando-me exatamente em nosso espaço mais próximo, ou seja, em nossa Unidade, em nosso CECITEC.

 

CECITEC: dez pontos para a “reconstrução”

O CECITEC materializou-se em 1995, graças ao compromisso institucional de interiorização da UECE, ao projeto de gestão do saudoso Reitor Paulo Petrola [1941-2004] e à organização e à determinação da sociedade local(2). Não resta dúvida, que o início de nossas atividades acadêmicas representou uma conquista de valor imensurável para Tauá e para o Sertão dos Inhamuns, haja vista as oportunidades que à época se criavam e se projetavam a partir da estrutura universitária em nossas hostes.
Senhoras e senhores; caros concludentes: Se, por um lado, estamos vivendo um momento de esperança; por outro, estamos com a necessidade, sob a égide da reconstrução, de retomar fundamentos básicos da gestão, redesenhar caminhos estratégicos, inserir e motivar a sociedade civil no processo, recuperar nossa importância no cenário microrregional e mostrar competência, em face da velocidade que vem movendo o conhecimento e os anseios das pessoas.
Sob essa ótica de reconstrução, a meu juízo, o CECITEC precisa se atentar para alguns aspectos, os quais descreverei a seguir:
1º - Precisamos, de imediato, retomar a prática do planejamento participativo estratégico, ancorada na lógica da processualidade e no binômio ação/reflexão. O planejamento sinaliza para a legitimidade das ações e para a responsabilidade e organização técnica, gerencial, política e acadêmica.
2º - O CECITEC precisa recuperar o seu papel de liderança e de instituição estratégica no contexto microrregional, a partir da reabertura do diálogo com a sociedade civil e da execução de ações que contemplem a missão universitária e as demandas sociais.
3º - Necessitamos, com urgência, recuperar o nosso eco interno, para a partir dele, provocar repercussões externas. É isso mesmo, o nosso Eco Acadêmico (uma alusão ao periódico publicado pelos Centros Acadêmicos entre 1999 a 2001, que está fazendo muita falta). Nesse sentido, urge que restabeleçamos a regularidade do funcionamento de nossos órgãos colegiados e que nossos estudantes, de forma autônoma, fortaleçam seus órgãos representativos. Compreendo que o somatório de forças em torno de um projeto maior, resguardado o princípio da autonomia de cada categoria, resultará em um maior dinamismo interno, na animação do processo acadêmico, na qualidade dos serviços e no fortalecimento institucional e democrático.
4º - É imperioso, como destaquei anteriormente, que seja restabelecido o diálogo do CECITEC com a sociedade civil. Aliás, essa integração foi imprescindível para sua fundação e para sua afirmação, na fase inicial de atividades. Com efeito, o isolamento intramuros aponta para um contracaminho da missão universitária. Ressalto que a defesa da autonomia não dispensa a universidade de se integrar com os diferentes núcleos sociais e de prestar contas dos serviços que ela oferece. Esse diálogo pode se concretizar e se fortalecer de várias formas, incluindo as atividades de planejamento, os ciclos de debates, a representação nos conselhos administrativos, as ações extensionistas, dentre outras.
5º - É tempo de a UECE projetar a expansão qualitativa e quantitativa dos cursos de graduação dos campi além-Capital. Precisamos ir além das licenciaturas, que, por uma questão de justiça, ao longo de três décadas, vêm cumprindo um relevante papel na formação de professores no interior, para as áreas humanas e exatas. Em nosso caso particular, em 1995, quando iniciamos as atividades, era pouquíssimo o número de professores com formação superior que atuava no magistério(3). Nesse sentido, o CECITEC cumpriu e continua cumprindo o papel de formar bem os profissionais, para exercerem a docência e atividades correlatas. Mas, a dinâmica histórica requer avanços e adequação às novas demandas, sem que isso signifique desrespeito aos princípios e à própria história. Em meio às mudanças, Tauá atualmente, conta com os serviços de outras cinco instituições de ensino superior, por meio da iniciativa privada. Além disso, está previsto para este ano [2008] o início de cursos em regime semipresencial, no âmbito do programa Universidade Aberta do Brasil (UAB)(4), através de parceria entre Prefeitura, MEC e outras instituições; bem como o funcionamento do CEFET [hoje, Instituto Federal de Educação, Ciências e Tecnologia do Ceará/IFCE], a partir de 2009/2010(5). Essas novas iniciativas não podem ser encaradas pela lógica da concorrência mercadológica, mas sob a ótica de que há muitos espaços e demandas para a implantação de políticas universitárias, incluindo a oferta de novos cursos de graduação, tanto em nível de licenciatura, como de bacharelado e dos denominados cursos tecnológicos.
6º - Precisamos, também, recuperar nosso papel extensionista, como forma de chegarmos mais próximo do povo, com a popularização do saber. Entendo que em se tratando de uma unidade universitária interiorana, é ainda maior a responsabilidade em torno de uma política de extensão que leve em conta as vocações, as culturas e as demandas locais. Recorro, a propósito, a Jacques Marcovitch: “A extensão é uma via para a universidade transferir ao conjunto social o que ela tem de mais consolidado, em termos de ensino e pesquisa. À medida em que ela se consolida nessas áreas, vai gerando na sociedade a expectativa de ter acesso a esse conhecimento extracurricular”(6).
7º - A pesquisa, a iniciação científica e a pós-graduação também precisam ser incorporadas ao nosso cotidiano. O CECITEC, sob o risco de comprometer seu papel de liderança, precisa estar atento acerca do potencial gerado a partir da disseminação dos cursos de graduação, da evolução infraestrutural e dos conceitos na administração local e das novas expectativas geradas.
8º - Em que pese o fato de estarmos em sede própria desde o início das atividades, é notória a deficiência de nossas instalações físicas. Assim sendo, a UECE, em parceria com o Governo do Estado, precisa com urgência projetar a ampliação e a modernização de nossa infraestrutura(7).
9º - Não podemos ficar à margem dos investimentos na área da tecnologia da informação. A impressão que tenho é que nos últimos quatro anos [de 2004 a 08], a UECE, em particular esta Unidade, ficou anestesiada em meio à velocidade tecnológica. Nesse sentido, com um pouco de criatividade e com nossa capacidade interinstitucional, podemos, em parceria, com a SECITECE, o CENTEC, o SEBRAE e a Prefeitura local, além de outros órgãos governamentais e não governamentais, estabelecer projetos em TI que venham fortalecer as nossas ações e atrair novos investimentos. Abrimos um parêntese para destacar que Tauá, sob a liderança da Prefeita Patrícia Aguiar, tornou-se destaque por conta da ousadia planejada, consciente e determinada de ser a primeira Cidade Digital do Nordeste(8)
10º - Precisamos valorizar nossa história e nossa produção acadêmica. Desse modo, é viável que conclamemos nossos ex-alunos e nossas ex-alunas para estabelecerem uma cruzada de propagação do que já construímos e do que podemos construir e para o que podemos contribuir. Caras e caros concludentes, vocês, certamente, vivenciaram e sofreram muitas dificuldades. Mas, torcemos para que as dificuldades, que se transformaram em desafios, resultem no fortalecimento do vínculo de todos vocês com este Centro.

 

A esperança no CECITEC: a título de considerações finais

Magnífico Reitor [Prof. Francisco de Assis Moura Araripe], senhor Diretor [Prof. Antonio Charles Silvério]. Neste início de reitorado(9), são muitos os desafios que estão postos e que estão sendo aguardados pela sociedade.  É evidente que o êxito de um projeto de gestão depende de uma correlação de fatores. No entanto, a capacidade administrativa e o compromisso institucional dos gestores são fatores que fazem a diferença no enfrentamento dos desafios.
Magnífico Reitor, professor Araripe, conheço a seriedade de Vossa Magnificência e sua identificação com a UECE e seu processo de interiorização. Citando nosso saudoso Joaquim de Castro Feitosa, “o Araripe é um homem que não tem medo do interior”(10). É por isso que o nosso discurso, nesta noite, reveste-se de esperança para que o CECITEC recupere a sua pujança, no contexto microrregional e estadual e se estabeleça, de forma planejada e processual, com novos projetos e novas atitudes. Certamente, saberemos a quem cobrar!
Caras e caros concludentes, resta-me agradecer-lhes pelo convívio e pelo aprendizado mútuo, ao tempo em que os parabenizo pela competência e pelo êxito alcançado nesta caminhada, desejando-lhes sucesso nos novos desafios que estão por vir. É isso: em nossa “travessia”, somos constantemente convidados e autoconvidados a “tocar em frente”. Que Deus proteja a todos vocês. Muito obrigado!

NOTAS E REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
(1) Os concludentes da referida solenidade são os seguintes: curso de Ciências Biológicas – Antônia Íris Gonçalves Oliveira, Eveline Reis Gonçalves Lima, Kennedy Santos Feitoza, Luiza Jéssyca Ribeiro de S. Fernandes, Reginaldo Pereira Fernandes Ribeiro, Vanessa Martins Feitosa, Vicente de Paula Bezerra Neto e Washington Joaquim Lira Fernandes; curso de Pedagogia – Adriana Rosenda de Amorim, Alex Pereira Sales, Anna Cristina Félix de O. Rodrigues, Antônia Cleya Gomes dos Santos, Antônia Costa do Nascimento, Antônio Assilon Freire Gonzaga, Cleidiane Sobreira de Sousa, Damião Gonçalves de Almeida, Elisângela Fernandes da Silva, Elizabete Medeiros Caracas, Geanes Rodrigues de Sousa, Gleide Setúbal Lima, Heldo da Silva Mendonça, Jakline de Castro Alves, Janaína Rolim Gonçalves, José Ademir Casusa Sampaio, Karla Gonçalves de Oliveira, Leidilene Alves Torquato, Maria de Lourdes Machado N. Neta, Maria do Carmo Alves do Nascimento, Maria Josivânia Rodrigues Cavalcante, Maria Juraci Ferrer Feitosa Neta, Maria Selma de Mendonça, Maria Silvana Gomes Parente, Patrícia Kívia Martins de Oliveira, Rogermo Tertuliano de Melo, Sebastião Setúbal da Silva, Siuvanilda Gomes de Sousa, Vera Lúcia Martins de Oliveira, Vilmara Gonçalves das Chagas e Weslianny Vieira Martins Fernandes. curso de Química – Alice Cibele Lira M. Martins, Antonia Inaura Rodrigues Cavalcante, Edivânio Rodrigues de Souza, Francisco Neyrivan de Sousa Pereira, Gerlan Teixeira Cavalcante, Kelviane Cristina Almeida Machado, Lucas André Cavalcante Mota e Pátia Bezerra de Paula Cavalcante.
(2) ARAÚJO, Antonio Abílio. O processo de criação do CECITEC no âmbito da política de interiorização da Universidade Estadual do Ceará. Relatório de projeto de Iniciação Científica – UECE/CECITEC. Tauá, CE, 2005. 138p.
(3) Cf. LIMA, J. A. V. Gestão Acadêmica na UECE e Interiorização: A experiência do CECITEC. 1999, 102f. Monografia (Especialização em Gestão Escolar) – UECE/PROPGPq. Tauá, CE, 1999.
(4) O polo da UAB de Tauá, de 2008 a 2013, através da UECE, UFC e do IFCE, ofertou seis cursos de graduação (licenciaturas em Letras/Português, Letras/Espanhol, Matemática, Informática e Física e bacharelado em Administração) e quatro cursos de especialização (Educação de Jovens e Adultos, Gestão Pública, Coordenação Pedagógica e Gestão Escolar).
(5) O campus do IFCE de Tauá foi inaugurado em 20 de novembro de 2009.
(6) MARCOVITCH, J. A universidade (im)possível. 2. ed. São Paulo: Futura, 1998. p. 34.
(7) Em 16 de maio de 2013, em solenidade que contou com as presenças do então reitor, professor Francisco de Assis Moura Araripe, e do vice-governador do Estado, Domingos Gomes de Aguiar Filho, foi lançada a pedra fundamental da reforma, ampliação e construção do CECITEC, correspondendo a uma área de 3.406 m², com pavimentos térreo e superior. (Cf. http://www.taua.ce.gov.br/noticias/lancada-a-pedra-fundamental-da-reforma-do-cecitec-em-taua).   
(8) O programa Cidade Digital de Tauá foi implantado em meados de 2006, em parceria com o Ministério das Comunicações. A repercussão de suas ações em inclusão digital renderam ao Município várias premiações, com destaque para: Prêmio SEBRAE Prefeito Empreendedor (1º lugar na categoria Região Nordeste) – edição 2007/2008; Prêmio Iberoamericano de Cidades Digitais (2º lugar) – edição 2008; Prêmio ARede (1º lugar na categoria Municípios) – edição 2008; Prêmio Ceará de Cidadania Eletrônica (1º lugar) – edição 2008/2009.
(9) O professor Francisco de Assis Moura Araripe tomou posse como reitor da UECE em 26 de maio de 2008, após ficar em 1º lugar em consulta realizada à comunidade acadêmica dessa Universidade.
(10) O ambientalista tauaense Joaquim de Castro Feitosa, popularmente conhecido como Dr. Feitosinha (1915-2003), pronunciou a citada frase em alguns eventos ocorridos no CECITEC, quando o professor Araripe ocupava o cargo de vice-reitor (1996-2003). Vale ressaltar que Dr. Feitosinha integrou o grupo de apoio para a criação do CECITEC (1994/95) e participava, com muita frequência, das solenidades realizadas por esse Centro.

PAULO PETROLA, O CONSTRUTOR DO CECITEC | Professor João Álcimo

PAULO PETROLA, O CONSTRUTOR DO CECITEC



(Discurso escrito por João Álcimo Viana Lima para a solenidade de inauguração de um conjunto de obras pela Prefeitura Municipal de Tauá, dentre elas a praça Paulo Petrola, em 10 de julho de 2009).


A criação do CECITEC no contexto do fortalecimento da interiorização universitária

Defronte ao CECITEC, a Administração Municipal de Tauá inaugura, na data de hoje, a praça Paulo Petrola(1). Homenagem justíssima, cujo homenageado tem tudo a ver com a nossa casa de ensino – pioneira nos Inhamuns.
Paulo de Melo Jorge Filho (professor Paulo Petrola), natural do vizinho município de Arneiroz, é, de fato e de direito, o idealizador e o construtor do CECITEC. Como reitor da Universidade Estadual do Ceará (UECE), no período de 1992 a 1996, não se esqueceu das suas raízes interioranas. Pelo contrário, foi em seu mandato que a interiorização universitária mais se fortaleceu, na história do ensino público superior cearense(2). Sob seu projeto de gestão e com essa visão de universidade, Paulo Petrola coadunou seu mandato e sua concepção de educação com seu compromisso íntimo de servir a sua microrregião natal. Foi assim que Petrola construiu a ideia, elaborou o projeto, articulou as forças políticas locais e estaduais, mobilizou a sociedade inhamunhense, comprou brigas dentro e fora da UECE e edificou o Centro de Educação, Ciências e Tecnologia da Região dos Inhamuns(3).
Acima de tudo, o professor Petrola tinha uma certeza central: a partir de 19 de junho de 1995, quando foram iniciadas as atividades do CECITEC, estava sendo transformada toda uma microrregião, cujos impactos, de forma às vezes silenciosa, repercutiriam para além da educação e da formação de profissionais. Imaginemos como seria Tauá e o Sertão dos Inhamuns sem o CECITEC. Dá para imaginar como seriam diferentes? Dá para imaginar o CECITEC sem Paulo Petrola? Não, senhoras e senhores, sem Petrola não teríamos o CECITEC.

Três passagens marcantes

Particularmente, tive o privilégio de conviver com Paulo Petrola e de colaborar com a implantação de sua obra. Ele, como mestre - na mais completa acepção da palavra; e eu, como aprendiz, na gestão pública e no magistério superior, a contemplar e a seguir suas lições, que eram proferidas por meio de seus gestos simples e determinados, ao mesmo tempo.
Seleciono três passagens muito marcantes para mim, que denotam a sua grandeza. A primeira, quando fui ao seu gabinete e recebi o convite para ser o primeiro diretor da UECE em Tauá. Em meio à subjetividade de grande filósofo que o era, ele foi objetivo e incisivo: “Coloque o CECITEC para funcionar”. A segunda, quando de seu primeiro contato com os universitários nas salas de aula do CECITEC. Na oportunidade, um aluno de Ciências queixou-se que os professores estavam exigindo demais. “Muito bem, fico muito feliz em saber que os professores estão sendo rigorosos, pois não se faz universidade sem rigor’’, respondeu de imediato. A terceira, em 28 de fevereiro de 1999, quando da sessão solene na Câmara de Vereadores de Tauá, em homenagem às primeiras turmas de formandos. Ao final, nosso Reitor fundador chorava, de forma espontânea e discreta. Suas lágrimas sintetizavam a realização de um homem, que fez suas ideias se materializarem em ações e que de todas as suas grandes ações, elegeu o CECITEC como a mais relevante.
Fico agora a imaginar, o mestre Petrola, sempre cativante, dialogando com alunos e professores na praça que acaba de ser inaugurada(4). Para quem afirmou que “quando uma universidade se implanta em uma cidade, mudam até as conversas de botequim”, certamente as conversas, defronte a sua UECE e ao seu CECITEC, seriam influenciadas por uma visão transformadora e conduzidas pela esperança.
Ao professor Petrola, a minha (nossa) imensa gratidão e admiração.
Muito obrigado!


NOTAS E REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

(1)  No mesmo dia, em 10 de julho de 2008, foi inaugurada a praça Joaquim de Castro Feitosa, situada, também, em frente ao CECITEC. A Lei que denominou a referida praça foi sancionada pela prefeita Patrícia Aguiar, em 12 de novembro de 2008, com o nº 1.618. A meu ver, foram duas homenagens justíssimas, considerando a grande importância de Paulo Petrola e Joaquim de Castro Feitosa para a criação dessa unidade acadêmica da UECE, em Tauá.
(2) Cf. ALVES, F. A. P. A interiorização da UECE: Estudo de caso da FECLESC. Monografia de Especialização – UFA, Maceió, 1994.
(3) Cf. LIMA, L. Universidade chega aos Inhamuns. Folha dos Inhamuns, Tauá, CE, nov. 1994, p. 1 et seq. / MARTINS, H. Região dos Inhamuns sedia 5º centro incorporado da UECE. Diário do Nordeste, Fortaleza, 25 jul. 1995. 1º caderno, p. 13.
(4) A Lei da praça Paulo de Melo Jorge Filho foi sancionada pela Patrícia Aguiar, em 17 de dezembro de 2008, com o nº 1.643.

A OBRA DE JOAQUIM DE CASTRO FEITOSA: CIÊNCIA E CULTURA EM PROL DOS CEARENSES | Professor João Álcimo

A OBRA DE JOAQUIM DE CASTRO FEITOSA: CIÊNCIA E CULTURA EM PROL DOS CEARENSES



(Discurso proferido na sessão solene de entrega da Medalha do Mérito Cultural para o Engenheiro Agrônomo Joaquim de Castro Feitosa, no CECITEC, em Tauá, 23 de janeiro de 2002).


O gesto da UECE
A mim foi concedida a honra de falar sobre Joaquim de Castro Feitosa [1915-2003], nosso querido Dr. Feitosinha. Com essa incumbência, inicio ressaltando a magnitude do gesto do Conselho Universitário da UECE, que por unanimidade aprovou a outorga da Medalha do Mérito Cultural(1) a esse ícone da moralidade e da preservação histórica e cultural.
A UECE, enquanto instituição que atua precipuamente na formação de profissionais e na produção e socialização da cultura e do conhecimento fez, acima de tudo, justiça em laurear a obra de Joaquim de Castro Feitosa. Dr. Feitosinha é um formador por excelência; no meio acadêmico-científico e cultural, é detentor de uma vasta produção; nos Inhamuns e no Estado cearense, seu trabalho profissional-institucional e profissional-autônomo sempre foi pautado pela incessante preocupação em levar conhecimento para o homem campesino e para a juventude, com o propósito de elevar o nível de conscientização política. O seu trabalho representa, portanto, uma indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão.

O mérito do homenageado
O conjunto da obra do Dr. Feitosinha é, indubitavelmente, merecedor de uma das maiores honrarias concedidas por instituições universitárias a personalidades de destaque. Entretanto, entendo que bastaria alguma ação específica, dentre as inúmeras que tiveram e têm a sua rubrica, para a outorga da referida medalha configurar-se como justa. Se assim a Universidade preferisse, poderíamos apontar a instalação da Estação Ecológica de Aiuaba; ou mesmo a criação e ampliação da Escola Prática de Agricultura e Veterinária; ou a criação da Sociedade Cearense do Meio Ambiente – da qual foi seu primeiro presidente; ou ainda, a instalação e a manutenção do Museu dos Inhamuns; ou pelo fato de ter integrado o Grupo de Apoio que resultou na criação do nosso CECITEC. Mas, poderia se configurar como injustiça vermos o Dr. Feitosinha de forma fragmentada. Ele é sua obra e sua obra é todo um conjunto que envolve a agronomia, a antropologia, a paleontologia, a literatura, a história, o sertão, a cultura e a ciência de um modo geral.
Aos 86 anos de idade [em 2002], Dr. Feitosinha prossegue com obstinação, em sua incessante luta em prol da preservação da natureza, da produção e valorização científica e cultural e pelo devido respeito ao sertanejo. Detentor de um entusiasmo e de uma lucidez impressionantes, é reivindicado por todos os segmentos sociais para participar e colaborar. Apesar de suas constantes ocupações e de seus problemas de saúde, é incansável e está sempre disposto a contribuir com as atividades que são norteadas pela seriedade. Com a humildade que lhe é peculiar, esbanja conhecimento e experiência, justificando, assim, sua notoriedade e respeitabilidade. No ambiente que tem o privilégio de contar com sua presença, permeia sempre um bom senso de humor. Como defensor da moralidade administrativa, protesta contra os gastos perdulários do poder público e cobra mais eficácia e honestidade.

A lição de Dr. Feitosinha

Indagado sobre o segredo para tamanha vitalidade, Dr. Feitosinha em entrevista concedida a acadêmicos de Pedagogia, em 1999, afirmou o seguinte: Não tenho inveja, não sou usurário (homem que morre moço, chateado, louco por dinheiro). Sempre respeitei a todos. E assim vou vivendo, procurando sempre fazer alguma coisa pelas pessoas. Quando falo com as pessoas, elas é que são importantes”(2).
Joaquim de Castro Feitosa, que foi condecorado com a Comenda Chico Mendes, pela Assembleia Legislativa do Ceará(3), é Mérito Cultural, Mérito dos Inhamuns e Mérito do CECITEC, por tê-lo como amigo fiel. Sediar uma sessão solene do Conselho Universitário é, de fato, um mérito para este Centro e para esta microrregião. Principalmente, levando em conta todas as credenciais do homenageado e, ainda mais, pelo fato de ele haver reivindicado para que a sessão fosse realizada em sua terra natal. O gesto de Dr. Feitosinha representa a valorização do CECITEC, que não obstante as inúmeras dificuldades, foi a única unidade dentre todas as que compõem o sistema estadual de ensino superior que conquistou conceito A no último Exame Nacional de Cursos do Ministério da Educação(4).
Dr. Feitosinha é muito caro para a UECE, para o CECITEC, para Tauá, para os Inhamuns, para o Ceará, para a cultura, para a ciência e para a ética. Muito obrigado!


NOTAS E REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

(1)  O projeto que resultou na aprovação da referida Medalha teve a autoria do professor Francisco de Assis Moura Araripe.
(2)  Referida entrevista foi concedida nas dependências do Museu dos Inhamuns, sendo documentada em fita de vídeo e comentada, com transcrição de alguns trechos, na revista “Ceará: História e Educação”, que foi lançada na disciplina Educação no Ceará, do curso de Pedagogia do CECITEC (1999).
(3)  A Medalha Chico Mendes foi aprovada pela Lei Estadual nº 11.564, de 26 de junho de 1989, com publicação no Diário Oficial do Estado do Ceará, em 28 de junho de 1989.
(4)  A conquista do conceito A pelo curso de Pedagogia do CECITEC, em 2000, no âmbito do Exame Nacional de Cursos, foi confirmada nos dois anos seguintes em que este foi realizado (2001 e 2002). Cf. LIMA, J. A. V. Interiorização universitária. O Povo, Fortaleza, 19 jan. 2003. Jornal do Leitor, p. 2. / LIMA, J. A. V. O “tri” de Tauá. O Povo, Fortaleza, 30 dez. 2003. Opinião, p. 6.  / O POVO. Curso de Pedagogia de Tauá ganha conceito A pela 3ª vez. Disponível em: http://admnoolhar.com.... Acesso em: 3 jan. 2004. / DIÁRIO DO NORDESTE. Pedagogia de Tauá obtém Conceito A pela 3ª vez. Fortaleza, 2 jan. 2014. Caderno Regional, p. 3.

PRESERVAÇÃO DA MEMÓRIA E VELOCIDADE TECNOLÓGICA: O CECITEC COMO INSTITUIÇÃO ESTRATÉGICA | Professor João Álcimo

PRESERVAÇÃO DA MEMÓRIA E VELOCIDADE TECNOLÓGICA: O CECITEC COMO INSTITUIÇÃO ESTRETÁGICA


(Discurso proferido por João Álcimo Viana Lima na solenidade de colação de grau da UECE/CECITEC, em Tauá, em 04 de dezembro de 2008).


Cinquenta anos em três momentos: das cartas de "Seu" Guerreiro ao CECITEC

Permitam-me fugir dos padrões habituais dos discursos, para hipoteticamente, com base em cenários pesquisados e relembrados, retornar ao tempo para depois estacionar nesta nobre solenidade e acenar para alguns desafios atuais.
Sertão dos Inhamuns, cidade de Aiuaba. 1958; portanto, há 50 anos. Após uma noite de boemia, no famoso “Pavão Dourado”(1), o nosso carteiro viajante prepara-se para mais uma longa jornada. Montado em seu cavalo, aos seus 46 anos, “Seu” Guerreiro, cuidadosamente, organiza sua bagagem (o malote do departamento de correios e telégrafos)(2). Sob sua responsabilidade, estão muitas correspondências, que vão desde a arrazoados saudosos de pais, mães e namoradas, que viram seus jovens queridos migrarem para o sudeste do País, em meio a mais uma castigante seca, a quantias em dinheiro, enviadas por algumas das poucas famílias abastadas do Município, que têm filhos estudando no Seminário diocesano e Ginásio do Crato, no Liceu do Ceará, na Universidade do Ceará e/ou na Universidade de Pernambuco.
O percurso de “Seu” Guerreiro é longo, mas de grande necessidade e importância para as pessoas de seu município. Ele tem consciência que está investido como portador de boas e más notícias. Talvez, não tenha se apercebido, mas ele é o grande comunicador de sua gente. De Aiuaba seguirá em direção a Saboeiro, Jucás e Cariús. Mas, dessa vez, por ordem de Dona Branca (a chefe dos correios de Aiuaba), terá que se estender até a cidade de Iguatu. As CE’s-176, 284, 371 e 375(3) nem sonham em ser asfaltadas. O seu cavalo, companheiro de viagem, ficará estacionado na propriedade de um amigo, no município de Jucás. De lá em diante, vencerá o itinerário, como em muitas outras vezes, ora a pé, ora de carona em caminhões. São 110 km, aproximadamente (quase 20 léguas), e cerca de uma semana entre ida e retorno desse agricultor que se tornou um itinerante da esperança
Tauá, dezembro de 1995; portanto, há 13 anos. Inaugura-se o Núcleo de Informática Prof. Paulo de Melo Jorge Filho (NUCLIPP), com seis computadores, com processadores 386 e sistema operacional windows 95(4).  Ainda não há internet nesta cidade. A expectativa é enorme; afinal, trata-se de um moderno equipamento público que se insere em uma nova realidade marcada pelo avanço da tecnologia da informação, que de forma transversal sinaliza com inovações, nos setores governamentais e não governamentais. Embora timidamente, os órgãos públicos e as empresas tauaenses começam a investir na compra de computadores. O CECITEC, por sinal, funcionando há seis meses, ainda tem como referência uma máquina datilográfica eletrônica, que em lugar reservado, na secretaria, está imponente a aguardar as digitações da Dolide, do Carlos, da Ana e da Julinha(5).
Para uma instituição recém-criada e comemorada como a mais importante da última década para o Sertão dos Inhamuns, o CECITEC, com o Núcleo de Informática, afirma-se, na opinião pública, como estratégico no contexto microrregional. No ato da inauguração, seis instrutores selecionados, no âmbito das primeiras turmas de alunos, sob a coordenação das professoras Marbênia, Geandra e Ivanete(6), anunciam que todas as 72 vagas para os cursos básicos de informática, nos três turnos, estão preenchidas. Momento de regozijos e de satisfação para uma turma de jovens professores e alunos, para a comunidade local e para o reitor fundador, presente à solenidade, professor Petrola. Este, por sinal, anuncia que o diretor do Centro de Estudos Sociais Aplicados, professor Francisco de Assis Moura Araripe(7), coordenará a primeira etapa de nosso planejamento estratégico, a ser realizada em fevereiro de 1996.
Senhoras e senhores: Retornando a dezembro de 2008, compreendo que este Centro vem contribuindo, de forma significativa, na formação de profissionais, na socialização do conhecimento e na formulação de ideias e qualificação dos serviços. No caso de Raimundo Santiago de Oliveira, o “Seu” Guerreiro, esta unidade, por intermédio de um trabalho de monografia de um concludente desta solenidade, conseguiu reconstituir a sua saga, com o recurso metodológico da história oral(8).
De fato, em torno de sua figura, está a grande importância que representou a função de carteiro, no interior do Nordeste, até a década de 1970, quando os correios e as emissoras de rádio ainda eram os principais veículos de comunicação. Agregado a esse valor sociocultural, o carteiro de décadas passadas era, via de regra, um “viajante” que enfrentava a carência de meios de transporte e a precariedade das estradas, uma espécie de banco postal e homem de coragem e de confiança das autoridades.

O CECITEC e as diversas temáticas

Mas, para além da importância de sua profissão, a história de “Seu” Guerreiro traz outras nuances que precisam ser consideradas, sob uma leitura sociológica e política. Como negro, ele conseguiu se afirmar como pessoa respeitada pela elite local – algo incomum na época. Como testemunha de um período marcado por mandonismos locais, que agregavam aspectos como milícias particulares e a valentia como símbolo da masculinidade, “Seu” Guerreiro, aos 96 anos [em 2008], é um arquivo vivo de nosso sertão.
Ressalto que muitas outras questões vêm sendo estudadas, quer sejam nos trabalhos de término de curso, em projetos especiais, em artigos científicos, em trabalhos de iniciação científica e em seminários. Destaco que neste semestre [2008.2], os cursos de Ciências Biológicas e Pedagogia, através de seus concludentes(9), desenvolveram temáticas como meio ambiente, combustíveis alternativos, piscicultura, reciclagem do lixo, desenvolvimento sustentável, culturas agrícolas, sexualidade, docência e formação de professores, currículo, educação e trabalho, avaliação, educação infantil, educação de jovens e adultos, planejamento educacional, pedagogia empresarial, legislação educacional, arte e educação, leitura e escrita, educação patrimonial e educação e inclusão social. São trabalhos que representam a competência acadêmica e apresentam considerações que sinalizam para uma perspectiva de aplicação.
Desse modo, a socialização desse conjunto expressivo de produções acadêmicas precisa vir à tona, por meio de eventos a serem protagonizados pelo próprio CECITEC. Isso aponta para a expansão e a democratização do saber.

O CECITEC e as “velocidades”: conhecimento, cultura e tecnologia

Senhoras e senhores: Em 1995, quando de sua implantação, o CECITEC era a única instituição de ensino superior presente no Sertão dos Inhamuns. Eram poucos os profissionais graduados atuando no magistério da educação básica. Hoje, a realidade é outra. Existem outras instituições, de natureza privada ou de natureza pública, como o CEFET [atual IFCE] e a UFC, por meio de cursos semipresenciais, em parceria com o MEC e Prefeitura, em Tauá. Além disso, uma unidade do CEFET está em fase de construção, que a partir de 2010, disponibilizará cursos profissionais e tecnológicos em níveis médio e superior(10).
Em meio a esse cenário, temos o desafio de manter o CECITEC como instituição estratégica nos Inhamuns. Para tanto, é imperioso que estejamos atentos aos anseios da sociedade e com a velocidade do conhecimento; que preservemos o perfil de qualidade em nossas ações, que devem se diversificar no ensino e para além do ensino, de forma planejada. É imprescindível que os antigos computadores acompanhem a velocidade da inovação tecnológica, no sentido de assegurarmos competência pedagógica e institucional para ampliarmos quantitativa e qualitivamente os nossos serviços.
Mas, também é papel da universidade, contribuir para a preservação da memória e para a valorização da cultura. Sendo assim, os processadores dual core 4000, os monitores lcd’s, a internet banda larga wireless, as videoconferências, os celulares e suas inúmeras funções e a telefonia voip não podem desconsiderar e apagar da história as cartas do “Seu” Guerreiro, porque elas representam o legado de um período que contribuiu com a formação da identidade de um povo, que se renovou e se adaptou a mudanças.
Sem dúvidas, a velocidade da internet banda larga é muito maior do que a marcha do cavalo de “Seu” Guerreiro ou de suas próprias pernas. São velocidades diferentes, em tempos distintos, mas ambas revestidas dos desafios sociais de seu tempo.
Caros e caras concludentes, parabéns a vocês por este momento tão sublime e tão nobre, que sintetiza os esforços e as competências individuais e todo um trabalho coletivo, que tem como símbolo e ambiência, esta instituição estratégica para Tauá e o Sertão dos Inhamuns: o CECITEC.
Boa sorte nos novos desafios que estão por vir. Muito obrigado!

NOTA: 
"Seu" Guerreiro faleceu em 17 de outubro de 2015, aos 103 anos.


NOTAS E REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

(1)  O Pavão Dourado era um famoso meretrício localizado na cidade de Aiuaba.
(2)  A propósito, cf.: BARBOSA, H. Carteiro viajante é referência no sertão cearense. Diário do Nordeste, Fortaleza, 21 dez. 2008. Regional, p. 2. / LIMA, J. A. V. Referência histórica. Diário do Nordeste, Fortaleza, 21 dez. 2008. Regional, p. 2.
(3)  Trata-se de rodovias estaduais, que ligam Aiuaba (município situado no Sertão dos Inhamuns) ao Centro Sul do Ceará.
(4)  Cf. LIMA, J. A. V. UECE: um semestre nos Inhamuns. O Povo, Fortaleza, 21 jan. 1996. Jornal do Leitor, p. 5. / TRIBUNA DO CEARÁ. Uece informatiza Centro de Ciências em Tauá. Fortaleza, 8 fev. 1996. Caderno C, p. 18.
(5)  Antonia Dolide Carlos Jataí, Carlos Antonio Soares Mota, Ana Maria Bezerra Gomes Lopes e Júlia Ribeiro Feitosa Lima (Julinha) foram os primeiros servidores técnico-administrativos do CECITEC (Cf. ARAÚJO, A. A. O processo de criação do CECITEC no âmbito da política de interiorização da Universidade Estadual do Ceará. Relatório de projeto de Iniciação Científica – UECE/CECITEC. Tauá, CE, 2005. p. 63.
(6)  As professoras Marbênia Gonçalves Almeida Bastos, Geandra Cláudia Silva Santos e Maria Ivanete de Sousa (aprovadas no primeiro concurso para docentes do CECITEC, em 1995) foram, portanto, as primeiras coordenadoras do NUCLIPP.
(7)  O professor Francisco de Assis Moura Araripe foi diretor do CESA, de 1992 a 96.
(8)  Cf. MOTA, T. A. “Seu” Guerreiro, Carteiro viajante. História viva no imaginário popular de Aiuaba. 2008, 65f. Monografia (Graduação em Pedagogia) – UECE/CECITEC, Tauá, CE, 2008.
(9)  Os concludentes da referida solenidade são os seguintes: curso de Ciências Biológicas – Adriano Rodrigues de Matos, Antônio Robério Castro Silva, Fernanda Soares Bezerra, Francisca Izabel Alves Ferreira, Ghyslaine Cristina Mota Salviano, Márcia Mikelly Vieira da Silva, Patrícia Torquato de Araújo e Willemar Holanda Mota; curso de Pedagogia – Alexandre Fernandes Torquato, Ana Paula Araújo Mota, Antônia Alisandra Araújo Braga, Antônia Gerlândia Ferreira do Nascimento, Antônia Rosiane Alexandrino Mota, Antônia Selma Rodrigues Torquato, Antônio Edvan Evangelista Nóbrega, Armando Setúbal de Araújo Filho, Débora Gonçalves dos Santos, Débora Marques Moreira, Edney Feitosa Alencar, Elda Izabel da Silva Araújo, Eridan Bezerra da Silva, Francisca Alzilândia Cardoso dos Santos, Francisco Ailton Carlos Inácio, Genilson Jairi Oliveira, José Martins Domingos, Luís Antônio Siqueira Mota, Maria Evilázia Suriano da Silva, Maria Raquel Moreira Mota, Mariana Graziela de Sousa, Micilene de Oliveira Castro, Nívia Soares Soares Andrade, Ramiro Ferreira de Oliveira, Rosalice Gonçalves Cavalheiro, Sérgio Reis Barros Rodrigues e Tarcísio Araújo Mota.
(10)               O IFCE (antigo CEFET) foi inaugurado, em Tauá, em novembro de 2009. Em 2010, foram ofertados os cursos iniciais, ou seja: Telemática (superior) e Gestão de Agronegócios (técnico médio). Referidos cursos foram escolhidos após enquete no site oficial da Prefeitura de Tauá (http://www.taua.ce.gov.br ) e a realização de uma assembleia geral, realizada, em Tauá, em 3 de julho de 2009.