quinta-feira, 28 de junho de 2018

QUERO OS TOSTÕES DE SETENTA / EM VEZ DOS MILHÕES DE AGORA.


QUERO OS TOSTÕES DE SETENTA
EM VEZ DOS MILHÕES DE AGORA.

(Poesia de João Álcimo Viana)

Prefiro que a inteligência
Conduza a bola no pé
E honre o trono do Pelé
Que fez pra os gols reverência,
Fez do futebol ciência,
Pesquisa que o mundo explora,
A arte que mais se adora
E magia que mais se ostenta.
Quero os tostões de setenta
Em vez dos milhões de agora.


Prefiro o jogo elegante
E a cadência de Tostão,
Menos músculo e mais visão,
Como meia ou atacante;
Prefiro o jogo ondulante
Com a patada de outrora
Na bola que corrobora
Que Riva lhe representa.
Quero os tostões de setenta
Em vez dos milhões de agora.


Prefiro o jogo com classe
Do Canhotinha de Ouro,
Vibrante como um calouro,
Preciso no chute e passe;
Se outro furacão passasse
Trazendo o Jair de fora,
A bola que hoje chora
De gols ficava sedenta.
Quero os tostões de setenta
Em vez dos milhões de agora.


Quero um Capitão fardado
Honrando time e patente,
Um cordial combatente
E com gol imortalizado.
Quero o tostão ou cruzado
Ou o réis que não vigora,
Pois sei que ele colabora
Pra o dólar sair do penta.
Quero os tostões de setenta
Em vez dos milhões de agora.

(João Álcimo Viana)





segunda-feira, 15 de maio de 2017

EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA: CONCEITOS, IMPACTOS E RESSIGNIFICAÇÃO EDUCACIONAL.

EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA: CONCEITOS, IMPACTOS E RESSIGNIFICAÇÃO EDUCACIONAL(1)



 (João Álcimo Viana Lima)

Conceitualmente, Educação a Distância (EaD) representa uma modalidade de ensino, que se torna possível a partir das tecnologias digitais e de rede, que são utilizadas como mediadoras do processo educativo, cuja metodologia dos cursos pode ser totalmente a distância, semipresencial (modelo misto) ou presencial-virtual, com “estudantes e professores desenvolvendo atividades educativas em lugares ou tempos diversos” (BRASIL, 2005)(2).
A partir de um cabedal teórico, com autores como Lynn Alves e Cristiane Nova (2003)(3) e Kátia Morosov Alonso (2005)(4), podemos visualizar a EaD como um fenômeno que requer reflexões críticas num macro contexto de educação, ao tempo em que podemos ampliar as suas definições conceituais, relacionando-a ao princípio da democratização e do acesso ao conhecimento e aos cursos formais; bem como, concebendo-a como um processo mais abrangente de inovação educacional.
Não obstante, a gênese da EaD no Brasil ter ocorrido na década de 1920, com a fundação da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, e em que pese à expansão, nas décadas seguintes, de cursos por correspondência e por meio dos sistemas radioeducativos e de telensino, a Lei nº 9.394/1996 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional/LDB)(5) configura-se como um marco na legislação e para a implantação de políticas e modelos educacionais associados às tecnologias digitais.
A LDB, no caput do artigo 80, estabelece que: “O Poder Público incentivará o desenvolvimento e a veiculação de programas de ensino a distância, em todos os níveis e modalidades de ensino, e de educação continuada”. Decorrido pouco mais de um ano, o Governo Federal publicou o Decreto nº 2.494/1998, regulamento o referido artigo. Em 2005, o Decreto nº 5.662, reafirmou, em seu artigo 2º, a oferta de cursos por meio de EaD na educação básica, educação de jovens e adultos (EJA), educação especial, educação profissional e educação superior.
A legislação brasileira, coadunada com o processo de expansão das estruturas de tecnologias da informação e comunicação, efetivou a implantação de programas sob a égide das perspectivas de EaD. Com efeito, foi criada, em 1996, a Secretaria de Educação a Distância (SEED), no âmbito do Ministério da Educação (MEC); foi instituído, em 1997, o Programa Nacional de Informática na Educação (ProInfo); e foram implantadas a Universidade Aberta do Brasil (UAB), em 2006, e a Escola Técnica Aberta do Brasil (e-Tec), em 2007.
Ressalte-se que os sistemas UAB e e-Tec, a partir do credenciamento de instituições públicas junto ao MEC, que se responsabiliza pela assistência financeira na elaboração e execução dos cursos, vêm promovendo uma considerável expansão na oferta de ensino técnico, em graduação e em pós-graduação, com a utilização dos métodos de EaD.
Diferenciando-se do tradicional modelo presencial, a EaD tem como características a utilização de tecnologias digitais na relação professor-aluno-conteúdo e a necessidade de um “cenário tecnopedagógico”(6), que são preponderantes para a qualidade dos cursos e aprendizagem dos alunos. No contexto dessa modalidade, as práticas de E-learning e de U-learning (que representa maior mobilidade de acesso e interação) tornaram-se realidade.
Inerente ao que foi mencionado, a definição dos professores e tutores e dos recursos tecnológicos estão entre os fatores determinantes para a qualidade dos cursos de EaD. Assim, os Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVA), com suas funcionalidades, constituem-se em elemento central do processo. No tocante às funcionalidades, o correio eletrônico, o fórum, o motor de busca, o chat e a videoconferência estão entre as suas principais ferramentas. A adoção de software livre, com as devidas adequação e personalização, é outro aspecto relevante em torno do AVA, de modo a propiciar momentos de interação, produção de trabalhos e avaliações síncronas e assíncronas.     
Quanto à função ou às múltiplas funções do tutor, essa(s) se insere(m) no cenário de ressignificação da prática docente e requerem competência profissional em três dimensões: pedagógica (apropriação dos processos de aprendizagem, incluindo as práticas de avaliação qualitativa e quantitativa), didática (habilidades na mediação, dinamização e facilitação da aprendizagem) e técnica (domínio das funcionalidades e das questões técnicas dos ambientes virtuais). Na busca de alunos autônomos e compreendendo que entre os sujeitos prevalecem habilidades múltiplas e distintas, o tutor exerce, destarte, um papel de destaque nos cursos e programas de Educação a Distância.
Em meio à evolução, extraordinariamente rápida e em nível global, das tecnologias digitais, proporcionando mudanças impactantes na sociedade e instituições, com sistemas cada vez mais automatizados e uma “economia de plataformas”(7), o processo de ressignificação da educação tende a ganhar novos e mais expressivos contornos. Assim, a tendência é que em 2035 tenhamos a EaD ocupando um papel hegemônico nos processos educativos. Ademais, espera-se, que na transição do ressignificado da função docente, não tenhamos, como no vídeo “The lost job on Earth” a prevalência da mensagem recebida por Alice: “We’re upgrading our workforce and i’m sorry to say”.

NOTAS E REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

(1) Texto produzido, em 7/3/2017, para o curso de Formação em EaD – UAB/UECE.
(2) Cf. BRASIL. Decreto nº 5.622, de 19 de dezembro de 2005. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/decreto/d5622.htm>. Acesso em: 5 mar. 2017.
(3) ALVES, Lynn; NOVA, Cristiane. Educação a Distância. São Paulo: Futura, 2003.
(4) ALONSO, K. M. Algumas considerações sobre a educação a distância, aprendizagens e a gestão de sistemas não presenciais de ensino. In: PRETI, O. Educação a distância: ressignificando práticas. Brasília, DF: Liber Livro, 2005.
(5) BRASIL. Lei nº 9.394, de 23 de abril de 1996 (com emendas posteriores). Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm>. Acesso em: 19 jan. 2017.
(6) Expressão utilizada por MOREIRA, E; RODRIGUES, L.
 Educação a Distância: conceitos, legislação, características, modelos, recursos e tutoria (Aula 1). Fortaleza: UECE, 2017.  p. 6.
(7) Cf.<http://ofuturodascoisas.com/que-novos-empregos-vao-existir-em-2035/>. Acesso em: 3 mar. 2017.


EaD: Da Rádio Sociedade do Rio aos Ambientes Virtuais de Aprendizagem.


domingo, 14 de maio de 2017

"NAS TRÊS LETRAS DE MÃE TEM TANTO AMOR / QUE NÃO HÁ QUEM CONSIGA DESCREVER", DE JONAS BEZERRA E RAULINO SILVA.

Amigos(as), vejam que primor poético (e de improviso) dos poetas repentistas Jonas Bezerra e Raulino Silva. Nesse mote em decassílabo em cantam: NAS TRÊS LETRAS DE MÃE TEM TANTO AMOR / QUE NÃO HÁ QUEM CONSIGA DESCREVER.

RS - Mãe é dona do lar do piso ao teto
E giram os filhos em torno das mãezinhas
Pra seu nome escrever são três letrinhas
Mas que valem por todo alfabeto
Cada gesto de amor é tão repleto
Que não fere se for repreender
Nem machuca na hora de bater
Que até tapa de mãe é indolor
NAS TRÊS LETRAS DE MÃE TEM TANTO AMOR
QUE NÃO HÁ QUEM CONSIGA DESCREVER.

JB – Nas três letras de mãe a gente nota
Uma fonte de amor que não tem fim
Toda mãe se parece com um jardim
Dando vida pra cada flor que brota
Seu amor verdadeiro não se esgota
Estar entre a família é seu lazer
Ter cuidado com o filho é seu prazer
E tem a bênção de Deus em seu favor
NAS TRÊS LETRAS DE MÃE TEM TANTO AMOR
QUE NÃO HÁ QUEM CONSIGA DESCREVER.

RS – A   mãe muda de status toda hora
Pra ganhar do rebento a confiança
Vira carro que leva quando cansa
E quando vai caminhar se torna escora
Ela vira babá se o filho chora
Vira médica se o filho adoecer
E se o guri tiver dúvida de um dever
Ela assume o lugar do professor
NAS TRÊS LETRAS DE MÃE TEM TANTO AMOR
QUE NÃO HÁ QUEM CONSIGA DESCREVER.

JB – A barriga lhe deixa deformada
Sofre crise e distúrbio muitas vezes
Mesmo assim ela passa os nove meses
Esperando o momento da chegada
Sente dor, sente medo, fica inchada
Sem falar que tem risco de morrer
Mas enfrenta isso tudo por saber
Que o filho compensa a sua dor
NAS TRÊS LETRAS DE MÃE TEM TANTO AMOR
QUE NÃO HÁ QUEM CONSIGA DESCREVER.

RS – É a mãe preparada pra amar
Disso não há ninguém que desconfie
Ela sopra o mingau até que esfrie
Pra criança beber sem se queimar
No período invernoso se esfriar
Ela põe o lençol pra proteger
Mas não deixa seu filho padecer
Por excesso de frio ou de calor
NAS TRÊS LETRAS DE MÃE TEM TANTO AMOR
QUE NÃO HÁ QUEM CONSIGA DESCREVER.

JB – O bebê é cercado de energia
De amor na entranha maternal
E através do cordão umbilical
Se alimenta no ventre a cada dia
Sua vida no mundo se inicia
Logo após a placenta se romper
Mas pra o ser desligar-se de outro ser
O cordão leva o corte do doutor
NAS TRÊS LETRAS DE MÃE TEM TANTO AMOR
QUE NÃO HÁ QUEM CONSIGA DESCREVER.

RS – Até ótimo pra mãe não é conceito
Da família e do mundo ela é o centro
Se deforma por fora, mas por dentro
Gera o filho no ventre sem defeito
O que mãe tem de amor dentro do peito
Não existe palavra pra dizer
Nem há número nenhum que possa ser
Comparado de longe ao seu labor
NAS TRÊS LETRAS DE MÃE TEM TANTO AMOR
QUE NÃO HÁ QUEM CONSIGA DESCREVER.

JB – Nas três letras podemos confirmar
(M) é muro de paz e proteção
(A) de amor, de alegria, de atenção
(E) de ensino, de exemplo, de educar
Mãe é sílaba que dá pra superar
Toda biblioteca se eu for ler
E em qualquer idioma dá pra ver
Que seu nome é tão puro quanto a flor
NAS TRÊS LETRAS DE MÃE TEM TANTO AMOR
QUE NÃO HÁ QUEM CONSIGA DESCREVER.

Raulino Silva e Jonas Bezerra.
Vídeo com o mote.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

IRACEMA: DE UM ROMANCE TÃO BONITO COMEÇOU MEU CEARÁ.

IRACEMA: DE UM ROMANCE TÃO BONITO COMEÇOU MEU CEARÁ


No carnaval de 2017, a escola de samba Beija-Flor de Nilópolis abordou em seu enredo o romance "Iracema", do cearense José de Alencar. Uma merecida e bela homenagem da Beija-Flor a um dos clássicos romances nacionais, a um dos maiores escritores de todos os tempos e à terra alencarina (terra de Alencar, o Ceará).

Abaixo, seguem a letra e o vídeo com o samba-enredo:

"A VIRGEM DOS LÁBIOS DE MEL – IRACEMA"

Compositores: Claudemir, Maurição, Ronaldo Barcellos, Bruno Ribas, Fábio Alemão, Wilson Tatá, Alan Vinicius e Betinho Santos.


A jandaia cantou no alto da palmeira
no nome de Iracema
lábio de mel, riso mais doce que o jati
linda demais cunhã-porã itereí
vou cantar juremê, juremê, juremê
vou cantar jurema, jurema
uma história de amor, meu amor
é o carnaval da Beija-flor.

Araquém bateu no chão
a aldeia toda estremeceu
o ódio de Irapuã
quando a virgem de Tupã se encantou com o europeu
nessa casa de caboclo hoje é dia de ajucá
duas tribos em conflito
de um romance tão bonito começou meu Ceará.

Pega no amerê, areté, anamá
pega no amerê, areté, anamá.

Bem no coração dessa nossa terra
a menina moça e o homem de guerra
ele sente a flecha, ela acerta o alvo
índia na floresta, branco apaixonado
vem pra minha aldeia, beija-flor
tabajara, pitiguara bate forte o tambor
um chamado de guerra, minha tribo chegou
reclamando a pureza da pele vermelha
no ventre bate o coração de Moacir
o milagre da vida, me faz um mameluco na Sapucaí
oh linda Iracema morreu de saudade
mulher brasileira de tanta coragem
um raio de sol a luz do meu dia
iluminada nessa minha fantasia

A jandaia cantou no alto da palmeira
no nome de Iracema
lábio de mel, riso mais doce que o jati
linda demais cunhã-porã itereí
vou cantar juremê, juremê, juremê
vou cantar jurema, jurema
uma história de amor, meu amor
é o carnaval da Beija-flor.


Uma das capas das edições de Iracema.
Escritor cearense José de Alencar.
Estátua alusiva a Iracema, na Praia de Iracema, em Fortaleza/CE.




segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

30 ANOS DE SAMBÓDROMO: NÃO DÁ PARA OMITIR O NOME DE BRIZOLA.

30 ANOS DO SAMBÓDROMO DO RIO: NÃO DÁ PARA OMITIR O NOME DE BRIZOLA



(João Álcimo Viana Lima, em 9/3/2014).

Sobre os 30 anos da inauguração do Sambódromo, no Rio de Janeiro (RJ), o Sistema Globo, através do portal G1, disse, em 25/2/2014, que a obra se trata de projeto de Oscar Niemeyer e ideia do Darcy Ribeiro. Mas, não falou que referido equipamento público (hoje tão destacado por sua relevância pelas Organizações Globo), foi executado pelo governador Leonel Brizola, em sua primeira gestão à frente do governo fluminense.
Em 1983/84, o Sistema Globo fez ostensiva oposição à construção do Sambódromo, ridicularizando a ousadia e o projeto do governador da época. O jornal O Globo chegou ao ponto de em charge, publicada em 3/3/1984, comparar Brizola a Odorico Paraguassu, personagem criado pelo dramaturgo Dias Gomes. Hoje, o então projetado "cemitério", na metáfora e na sátira da equipe de Roberto Marinho, está sendo definido, pelo mesmo jornal, como o "maior palco do carnaval no planeta". Mas, em vez de se retratar da oposição raivosa e parcial, dessa vez omite ou cita somente de forma indireta e na condição de mero coadjuvante, o nome de seu construtor: Leonel Brizola.
Parece que após 10 anos de sua morte, Brizola continua a fazer medo às Organizações Globo. A omissão de seu nome quando se fala da construção e da história do Sambódromo é um grande absurdo. Guardadas as devidas proporções, imaginemos falar da história de Brasília sem fazer referências ao presidente Juscelino Kubitschek.
Concordo plenamente com jornalista e ex-assessor de Brizola, Fernando Brito, que vivenciou "essa peleja". 30 anos depois, Brito tem a convicção de que "não haverá no mundo [...] engenheiro capaz de transformar sonho em realidade se não houver a massa etérea do sonho como matéria - prima do concreto". Viva o Sambódromo, sonhado e materializado por Leonel Brizola.
Charge do jornal O Globo, comparando Brizola ao folclórico personagem Odorico Paraguassu.
Governador Brizola inaugurando o Sambódromo, em 1984.

domingo, 26 de fevereiro de 2017

MARCHINHAS DE CARNAVAL.

MARCHINHAS DE CARNAVAL


Neste carnaval, relembro célebres marchinhas, que, com letras breves e excelentes ritmos, há várias gerações são ouvidas e cantadas. Celebrizaram-se e eternizaram-se!

Allah-la-ô”, de Haroldo Lobo e Nássara (1940), é um dos exemplos. Quem não conhece? "Allah-lá-ô, ô ô ô / Mas que calor, ô ô ô ô / Atravessamos o deserto do Saara / O sol estava quente / Queimou a nossa cara".

Outra que se eternizou como marchinha carnavalesca foi a música “Cachaça”, de Mirabeau Pinheiro, Lúcio de Castro e Heber Lobato, composta em 1953. "Você pensa que cachaça é água / Cachaça não é água não / Cachaça vem do alambique / E água vem do ribeirão".

Aurora”, de Mário Lago e Roberto Roberti (1940), é outra pérola: "Se você fosse sincera / Ô ô ô ô Aurora / Veja só que bom que era / Ô ô ô ô Aurora."

E a “Cabeleira do Zezé”, de João Roberto Kelly e Roberto Faissal (1963)? Outra, eternizada. "Olha a cabeleira do Zezé / Será que ele é / Será que ele é."

Da grande Chiquinha Gonzaga (1899), temos “Ô abre alas”: Ô abre alas que eu quero passar / Ô abre alas que eu quero passar / Eu sou da lira não posso negar".

Jardineira”, de Benedito Lacerda e Humberto Porto (1938), é demais! "Ó jardineira por que estás tão triste / Mas o que foi que te aconteceu?".

Esta canto com meus filhos: “Ô balancê”, de Braguinha e Alberto Ribeiro (1936). "Ô balancê balancê / Quero dançar com você / Entra na roda morena pra ver".

Linda Morena”, de Lamartine Babo (1932): "Linda morena, morena / Morena que me faz penar / A lua cheia que tanto brilha / Não brilha tanto quanto o teu olhar".

Outra conhecida de todos nós: “Mamãe eu quero”, de Jararaca e Vicente Paiva (1936). “Mamãe eu quero, mamãe eu quero / Mamãe eu quero mamar / Dá a chupeta, dá a chupeta / Dá a chupeta pro bebê não chorar".

Me dá um dinheiro aí”, de Ivan Ferreira, Homero Ferreira e Glauco Ferreira (1959): "Ei, você aí! / Me dá um dinheiro aí / Me dá um dinheiro aí".

Concluo a citação de marchinhas, com “Saca-rolha”, de Zé da Zilda, Zilda do Zé e Waldir Machado (1953). “As águas vão rolar / Garrafa cheia eu não quero ver sobrar / Eu passo mão na saca saca saca rolha / E bebo até me afogar / Deixa as águas rolar”.

Na sequência: Mário Lago, Chiquinha Gonzaga e Benedito Lacerda.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

“DESCONGELAMENTO” DAS UNIVERSIDADES E RETRAÇÃO DE RECURSOS.

“DESCONGELAMENTO” DAS UNIVERSIDADES E RETRAÇÃO DE RECURSOS



(Discurso proferido por João Álcimo Viana Lima na solenidade de lançamento do livro “Gestão e Autonomia Universitária: a experiência da UECE”, em Tauá, em 17 de dezembro de 2003).


O compromisso dos universitários do CECITEC/UECE
Inicialmente, enalteço a produção acadêmica de nossos alunos de Pedagogia, que possibilitou o lançamento de mais um número da revista “Construindo a História da Educação”(1). Referida publicação evidencia o compromisso de nossos universitários, de fazerem academia de forma séria, sinalizando para a competência. Sinto-me, portanto, honrado em ter ministrado a disciplina “História da Educação” para essa turma do 2° semestre de Pedagogia. Parabéns!

Três registros acerca do livro
Com relação ao livro “Gestão e autonomia universitária: a experiência da UECE”(2), tenho por obrigação fazer alguns registros:
1° - A gênese desta obra está em minha atuação como diretor deste Centro, em seus quatro anos iniciais de atividades, ou seja, de 1995 a 1999. As funções administrativas conduziram-me a uma espécie de militância política, que se alicerçou no propósito de estruturarmos e expandirmos as ações do CECITEC. Não obstante as conquistas que podem ser destacadas, esse propósito encontrou obstáculos, especialmente a partir da insuficiência de recursos financeiros da Universidade Estadual do Ceará, nossa mantenedora. Em meio a esse contexto, como gestor, procurei analisar as políticas de educação superior emanadas do Governo federal e as nuances que implicam o sistema das universidades públicas cearenses. O desafio de ser um estudioso da temática foi deveras instigante. Por conseguinte, cursei especialização e mestrado em Gestão Educacional.
2° - Tem responsabilidade e influência capital sobre este livro, o planejamento estratégico, que realizamos no CECITEC, de 26 a 28 de fevereiro de 1996, sob a coordenação do então diretor do Centro de Estudos Sociais Aplicados, professor Francisco de Assis Moura Araripe, e da professora Maria do Socorro Ferreira Osterne. Coube à professora Socorro, a orientação dos procedimentos metodológicos e o referencial teórico que orientaram nossos trabalhos. Seu texto, “O papel da Universidade Estadual como suporte para o desenvolvimento cultural, científico, tecnológico e gerencial do Estado do Ceará(3)”, foi referência para pensarmos o CECITEC como instituição estratégica para o desenvolvimento sustentável dos Inhamuns. Destaco que me sensibilizou bastante o gesto da direção do CESA, a maior unidade acadêmica da UECE, ao lado do Centro de Humanidades, a convite do então reitor, professor Paulo Petrola, que permaneceu em Tauá, durante três dias, trabalhando as ações do CECITEC, numa perspectiva de planejamento.
3° - Por uma questão de justiça, tenho que destacar o compromisso acadêmico, a competência técnica e a postura ética de minha orientadora de mestrado, exatamente a professora Socorro Osterne. Em nenhum momento, o cargo de pró-reitora(4) comprometeu a sua função, numa dissertação que investigava a gestão da UECE, incluindo o período em que ela fez e faz parte da administração superior [de 1996 a 2004]. O resultado de nossa pesquisa apontou críticas, corroboradas inclusive pela professora Socorro, ao modelo administrativo atual da Universidade Estadual do Ceará. Fica o exemplo de que a crítica pode construir; e feliz do gestor que tem a inteligência de absorvê-la e de utilizá-la como um meio para o aprimoramento e/ou mudança de suas ações.

Universidades públicas: “descongelamento” e retração de recursos
Após fazer esses registros, gostaria de focalizar duas questões que estão incluídas no livro ora lançado: o “descongelamento” das instituições universitárias e a retração vertiginosa na transferência de recursos às universidades públicas.
Se nós formos comparar o documento “Educação Superior na América Latina e no Caribe”(5), de autoria de Cláudio Moura e Castro e Daniel Levy, consultores do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), com decretos e portarias do Ministério da Educação e propostas de emendas constitucionais, no período de 1996 a 2002, constataremos muitos pontos convergentes(6).
Esse termo “descongelamento” está expresso no documento do BID(7), que, através de seus consultores, sentencia que as universidades não se coadunam com a necessidade de expansão do ensino superior, haja vista terem uma pesada estrutura, serem onerosas e conviverem em constantes conflitos ideológicos e epistemológicos. Desse modo, sugere-se como alternativa que o Governo federal adote medidas no sentido de possibilitar e estimular a criação de instituições de ensino superior, especialmente de natureza privada, e sem a missão histórica e o compromisso legal de uma universidade. O que se torna irônico é que Cláudio Moura e Daniel Levy são conscientes de que a maioria das instituições particulares de ensino superior apresentam uma qualidade questionável; entretanto, entendem que essas são mais ágeis e se adequam com mais facilidade às exigências mercadológicas. Ora, uma instituição de ensino e, especialmente, uma universidade, não pode ser refém da lógica mercadológica. Tal defesa fere frontalmente o papel quase milenar da universidade, por ser uma instituição formadora de profissionais e produtora e difusora do saber, a partir de uma postura replicante, contra-hegemônica e cidadã.
De fato, não se concebe que o Brasil possua menos de 10% de jovens de 18 a 24 anos, frequentando cursos superiores, enquanto a Grã-Bretanha tem 32% e os Estados Unidos 55%. Ficando no âmbito latino-americano, o Chile tem 21% e a Argentina 40% de sua população, com título universitário, enquanto o Brasil só possui 11% de seus habitantes formados na academia(8). Todavia, a expansão do ensino universitário não pode e não poderia deixar de visualizar como questões centrais, a qualidade da formação e o fortalecimento das universidades públicas. Infelizmente, vem ocorrendo absolutamente o contrário em nosso País.
Verifica-se, portanto, uma crise conjuntural das universidades públicas brasileiras. Nessa última década, a retração dos recursos vem se dando de forma acentuada e perversa. No plano estadual e, especificamente, no caso da UECE, houve uma queda real de 25%, na transferência de receitas, entre os anos 1999 e 2000. Outro ponto que agrava a capacidade de investimento de nossa instituição é que, tomando o exemplo do exercício de 2000, 72% dos recursos a ela destinados foram utilizados para pagamento da rubrica “Vencimentos e vantagens fixas de pessoal civil”(9). A proposta orçamentária do Estado para 2004 é cada vez mais desoladora. No que tange à União, o Governo reservou no orçamento de 2004, um valor inferior a 17% com relação ao exercício de 2002 para as universidades públicas federais; ao passo que cresceram em 25% as receitas direcionadas para o crédito educativo, que tem como destino as instituições privadas(10). A insuficiência financeira, nos processos da gestão de nossas universidades públicas, tem sido crucial em desfavor do princípio da autonomia universitária, comprometendo, inclusive, a dimensão didático-científica, que aparentemente tem seu exercício autônomo resguardado, mas que em face da falta de recursos financeiros, depara-se com um limite para criar, expandir, produzir, difundir e formar.

Agradecimentos e dedicatória
Agradeço imensamente a presença de todos e de todas vocês, nesta solenidade tão importante para mim. Agradeço a todos que contribuíram para a publicação desta obra, de modo especial à Universidade Estadual do Ceará, na pessoa do seu reitor, professor Francisco de Assis Moura Araripe. Dedico esta obra, de modo bem especial, a duas pessoas. Mas, abro um parêntese. Lulu Santos e Nelson Motta, na excepcional composição “Certas Coisas”, afirmam que “cada voz que canta o amor não diz tudo o que quer dizer; tudo o que cala fala mais alto ao coração”(11). Mesmo corroborando os compositores citados e ciente de que não saberei exprimir com precisão o que sinto e o que quero, dedico este livro, com todo meu amor, para Elizângela e João Héricles.
Senhoras e senhores, amigas e amigos. Este também é meu primeiro discurso, após retornar à direção do CECITEC(12). Esta Unidade, que apesar de suas dificuldades, vem revelando para os Inhamuns, para a UECE e para o sistema de educação superior, que é possível fazer um trabalho com compromisso e competência.
Finalizo, dedicando esta solenidade ao inesquecível Joaquim de Castro Feitosa [1915-2003]. Como falei em outras oportunidades, Dr. Feitosinha é uma grande referência moral, cultural e política do Sertão dos Inhamuns; e, sem dúvidas, este evento tem reflexo de sua vasta e importantíssima obra. Muito Obrigado!


NOTAS E REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

(1)  LIMA, J. A. V. (Org.). Construindo a História da Educação – Revista da UECE/CECITEC. TAUÁ, CE, n. 3, 2003, 24p.
(2)  LIMA, J. A. V. Gestão e autonomia universitária: A experiência da UECE. Fortaleza: UECE, 2003. 216p.
(3)  OSTERNE, M. S. F. O papel da Universidade Estadual como suporte para o desenvolvimento cultural, científico, tecnológico e gerencial do Estado do Ceará. Fortaleza: UECE/CESA, 1995. (Texto digitado).
(4)  A professora Maria do Socorro Ferreira Osterne foi pró-reitora de Planejamento da UECE, no período de 1996 a 2004.
(5)  CASTRO, C. M.; LEVY, D. C. Educação superior na América Latina e no Caribe: Um documento estratégico. Educação Brasileira – Revista do CRUB, Brasília, v.19, n.39, p. 109-159, 2. sem. 1997.
(6)  Cf., a propósito: FOLHA DE SÃO PAULO. Ministro quer vários tipos de universidade. São Paulo, 31 ago. 1997. Caderno 3, p. 3.
(7)  CASTRO; LEVY. Op. cit. p. 17.
(8)  Cf. RISTOFF, D. A tríplice crise da universidade brasileira. In: TRINDADE, H. (Org.). Universidade em ruína na República dos Professores. 2. ed. Petrópolis, RJ: Vozes; Porto Alegre: CIPEDE, 2000. p. 201-210.
(9)  FUNECE. Departamento de Contabilidade e Finanças. Balanço Financeiro (1999; 2000). Fortaleza, 2000. (Texto digitado).
(10)               Cf. DOCUMENTO sobre gastos sociais revolta reitores de federais. Disponível em: http://estadao.com.br/educando/noticias/2003/nov/14/193.htm. Acesso em: 24 out. 2003.
(11)               Disponível em: http://letras.terra.com.br/lulu-santos/35063/. Acesso em: 7 jan. 2010.
(12)               Em 3 de novembro de 2003, reassumi a função de diretor do CECITEC. Com o fim do mandato do professor Francisco de Assis Moura Araripe, a meu pedido, conforme consta no processo 04185976-6 (SPU), fui exonerado da referida função em 22 de maio de 2004.