quarta-feira, 16 de julho de 2014

A CARTA DE PARREIRA E O RELATÓRIO DE FELIPÃO. | Professor João Álcimo

A CARTA DE PARREIRA E O RELATÓRIO DE FELIPÃO.


(João Álcimo Viana Lima, em 15/7/2014).

Tendo nascido no início da década de 1970, vim comemorar o primeiro título mundial da Seleção Brasileira na Copa de 1994. Após duas decepções sob o comando de Telê Santana (em 1982 e 86) e do fiasco do time de Lazaroni (em 1990), conquistamos o tão almejado tetra, com um elenco bastante questionado por seu nível técnico, tendo Carlos Alberto Parreira como treinador.

Em comparação com o time de 82, onde tínhamos Zico, Falcão, Sócrates, Júnior, Leandro, Cerezo, Oscar e Éder no auge de suas carreiras, era razoável que o time de 94 nos deixasse reticentes. Infelizmente, aquela geração de brilhantes atletas ficou marcada por não conquistar uma Copa do Mundo. Por outro lado, um dia desses pensando com os meus botões, cheguei à conclusão de que a seleção de 94, ao tempo em que foi vencedora, recebeu muito mais injustiças do que reconhecimento.

Vejamos: Taffarel sempre se agigantava com a camisa 1 da Canarinho; Márcio Santos e Aldair formaram uma das melhores duplas de zagueiros em uma Copa, apesar de terem chegado à condição de titulares após as lesões de Ricardo Rocha e Ricardo Gomes; Jorginho foi um grande lateral direito, que apoiava com muita facilidade; Mauro Silva e Dunga se prestaram muito bem ao papel de volantes de marcação, algo que quase sempre eles fizeram com muita precisão. Romário (a grande referência daquele ano e um dos maiores atacantes do mundo em todos os tempos) e Bebeto (jogador acima da média) formaram uma dupla de ataque eficaz e muito bem sintonizada. Ambos fizeram gols por meio de assistências mútuas. Leonardo atravessava ótima fase, mas por conta de uma violenta cotovelada desferida em um jogador dos Estados Unidos, foi eliminado da Copa; em seu lugar, entrou Branco, como grande incógnita, mas com experiência e a utilidade de seu potente chute. Nosso grande gargalo residia no estratégico setor de criação, com Zinho e Raí, que diferente de Taffarel, sempre se inferiorizou na Seleção. Em decorrência de suas más atuações, Raí foi substituído, no decorrer do certame, por Mazinho e a braçadeira de capitão foi repassada para Dunga.  

Com as limitações postas e expostas, Parreira fez muito bem a sua parte. Com um time bem montado defensivamente, os laterais tinham liberdade para subir ao ataque e os atacantes movimentavam-se para buscar a bola. Além disso, Romário (talentoso, frio e polêmico) correspondeu às expectativas e desde o primeiro jogo mostrou que estava na Copa para ser o melhor. E foi! Era um time, disparadamente, superior ao deste ano. Então, fiquei com essa referência positiva de Parreira, que, em meio à fragilidade na criação de jogadas, soube armar o time taticamente e potencializou os pontos fortes dos atletas brasileiros. Enfim, ganhou o tetra, após 24 anos de jejum, na Copa sediada nos Estados Unidos.

Não obstante seu fracassado comando na Copa de 2006, com um time repleto de atletas campeões do mundo e alçados à condição de “estrelas”, sempre considerei a imprensa muito inclemente com Parreira. Ora, o cara, imerso em toda uma onda de pessimismo, dirigiu a seleção do tetra! Mas, na Copa de 2014, como coordenador técnico de nossa seleção, ele, simplesmente, perdeu o senso do ridículo. Se não bastasse a massacrante e humilhante goleada sofrida contra a Alemanha, o diplomático Parreira, um dia após o maior revés da história da Seleção Brasileira, resolveu ler uma suposta carta enviada por “dona Lúcia” ao técnico Luiz Felipe Scolari.

Em respeito aos 102 anos de idade de seu Guerreiro, ex-carteiro viajante do interior cearense, não vou entrar no mérito da origem e do percurso da carta. Mas, intriga-me os motivos que levaram Parreira à exposição tão risível. Solidariedade ao Felipão? Determinação de alguém? O certo é que aquele 7x1 foi muito doído para os brasileiros. Desse modo, por mais que a carta seja, de fato, da dona Lúcia, sua leitura foi deveras inoportuna. Na contramão da opinião pública, o sentimento da suposta torcedora anônima é de profunda admiração e gratidão ao então técnico brasileiro. Ao preferir usar o tempo com questionável carta, a comissão técnica ficou devendo um pedido desculpas aos brasileiros.

Para completar o malogrado desfecho, o senhor Felipão, longe de demonstrar a humildade que lhe foi atribuída pela tolerante, compreensiva e afetuosa dona Lúcia, resolveu revelar, após os 7x1 contra a Alemanha e os 3x0 contra a Holanda, que entregará um relatório de seu trabalho à CBF. Por Deus, qual é a necessidade e qual será a utilidade desse relatório? Pra reiterar e nos convencer de que o desastre da participação da Seleção, que jogou a Copa em casa, foi decorrente apenas de um apagão de seis minutos? Todos vimos que o Brasil não jogou bem e que pra nossa sorte, como se fosse numa prova de automobilismo, na semifinal e na disputa do 3º lugar, a Alemanha e a Holanda literalmente subiram o pé no acelerador.

Não creio que Luiz Felipe Scolari queira seguir o exemplo do grande escritor Graciliano Ramos, que ao deixar o cargo de prefeito de Palmeira dos Índios, exercido em 1927 e 1930, entregou, ao governador alagoano, um qualificado relatório, que despertou a atenção dos editores da época, por sua criatividade textual.

Então, que o Parreira e o Felipão nos poupem de suas cartas e seus relatórios.


 Parreira fazendo a leitura da "carta de dona Lúcia".
Seleção de 1994: "Disparadamente, superior à de 2014".

Graciliano Ramos: Autor de qualificado relatório de sua gestão como prefeito.

quinta-feira, 10 de julho de 2014

O GRANDE INQUISIDOR. | Professor João Álcimo

O GRANDE INQUISIDOR.

(João Álcimo Viana Lima, em 10/7/2014).

O dia 9 de julho está marcado pela maior hecatombe e humilhação que o futebol brasileiro sofreu em sua história. Concordo com o técnico Luís Felipe Scolari de que tal façanha não mais se repetirá. Não é possível que algo semelhante ainda aconteça. Como explicar que o país que tem o futebol pentacampeão do mundo e que produziu craques da estirpe de Pelé, Garrincha, Nilton Santos, Didi, Vavá, Gérson, Rivelino, Carlos Alberto Torres, Zico, Romário, Ronaldo e tantos outros, tenha sofrido tão absurda humilhação? 

Na goleada histórica de 7x1, o time brasileiro confirmou o quanto está pequeno tecnicamente. Mas, ninguém esperava que a seleção fosse se apequenar ao extremo. No Mineirão, mais uma vez lotado, não se viu uma minúscula sombra ou um milímetro do rastro da gloriosa tradição do esporte mais popular deste País. O que se viu foi um time sem padrão tático, um técnico inerte e jogadores atordoados e na “roda”. Lembrei-me do famoso “quadrado”, nos recreios de minha época de estudante no ensino fundamental. Era feito um círculo com vários alunos, enquanto um deles ficava no meio tentando roubar a bola, que ia girando de pé em pé. Quem perdesse a bola, assumia a indesejável posição. No quarto e quinto gols da Alemanha, vimos a seleção brasileira literalmente no “quadrado”. Com uma diferença, em vez de um, tínhamos vários atletas na “roda”. O que parecia brincadeira, expressou uma dura realidade.

Todos vimos que o Brasil chegou às semifinais jogando um futebol muito longe de ser convincente. Nas oitavas, a classificação só veio nos pênaltis, contra o Chile. Sem ter jogado as Eliminatórias, a conquista da Copa das Confederações, em 2013, deu-nos a impressão de que o time estava pronto para conquistar o hexa. Felipão apostou nisso e em seus métodos antigos e os brasileiros acreditaram na reedição de 2002, quando o Brasil foi penta com ele no comando técnico. Amarga ilusão! À época, a seleção contava com Cafu, Roberto Carlos, Ronaldinho Gaúcho, Rivaldo, Ronaldo e as grandes defesas de Marcos. Agora, o único destaque era o Neymar. Após os dois primeiros jogos, veio a certeza, de que nossas expectativas dependiam quase que exclusivamente dele. De fato, não havia como relativizar a ausência de Neymar, na condição de único atleta diferenciado de um time com muitas limitações. Infelizmente, deu no que deu contra a forte equipe da Alemanha.

Um dia antes do vergonhoso revés, no artigo “Por um novo Amarildo”, numa alusão ao substituto de Pelé na Copa de 1962, após sua contusão naquele certame, ponderei que: “A diferença do nível técnico entre os dois elencos é abissal. À altura de Neymar, não temos ninguém.” Consciente do favoritismo da Alemanha, mas muito desejoso da vitória brasileira, apelei para o otimismo, com base em nossa tradição, no fato de o Brasil está jogando em casa e nos “sopros da força exterior que vagueia e permeia sobre o futebol”. Outra amarga ilusão! Sem deixar de fazer apologia às crônicas rodrigueanas, aprendi, contudo, que os “sopros sobrenaturais” não poderão influir sobre um placar ou campeonato sem contar com algum componente concreto. Mas, o que podemos classificar como concreto dentro das quatro linhas do campo? Compreendo que talentos individuais e organização tática devem estar entre os itens básicos da concretude para se chegar ao êxito no futebol. A “força exterior” deve fazer o complemento, a diferença, o excesso e a consagração. Por outro lado, pode provocar o escárnio.

Temendo a ausência desse algo concreto, no referido artigo, escrevi: “Oscar, jogou muito bem o primeiro jogo (contra a Croácia), mas nos próximos confrontos deu-nos a grande impressão de que se tratou de um “alarme falso”. Hulk é o grande exemplo de que porte físico e garra não bastam para brilhar em nossa seleção. Fred até agora tem tido atuações pífias e indignas de um centroavante de ofício.” Sinceramente, apostei na performance técnica e no espírito de liderança de David Luís, o melhor jogador brasileiro no cômputo dos jogos anteriores desta Copa. Infelizmente, após o primeiro gol alemão, em um erro grosseiro de marcação da defesa, ele desmoronou junto com seus companheiros. Em meio à aposta, no aludido texto, fiz a seguinte indagação, em forma de ponderação: “Alguém se lembra de um zagueiro de área ter sido a principal referência de nossa seleção?”

Com um time reconhecidamente qualificado, organizado e disciplinado taticamente, com facilidade, a Alemanha nos impôs o massacre. Discordo, entretanto, de quem falou que os alemães deram uma aula de futebol. Na verdade, tratou-se de um “passeio”. Em campo, para que um time possa dar uma “aula de bola”, é preciso que ele tenha um adversário à altura ou, pelo menos, em condições aproximadas. O Brasil, este sim, deu uma aula de como não jogar futebol e de como não honrar a gloriosa camisa amarela.

Ficou evidente a necessidade de uma ampla renovação em nossa seleção. Francamente, não sei quais lições podem ser tiradas dessa catástrofe. O sentimento que tenho é de que é preciso “passar a régua” e “pedir a conta”. Acontece que os problemas estão para além da escassez de craques e do comando técnico da seleção. Há uma dimensão exógena aos gramados e que neles repercute negativamente. Falo da estrutura de poder, aos moldes feudais, do futebol brasileiro, com a CBF, suas afiliadas e seus dirigentes.

Em meio à deterioração ética e técnica, infelizmente, testemunhamos um gigante sucumbir como um reles mortal. Fomos da imponência à completa impotência. A abstração, composta pelo desejo de vencer, pela torcida apaixonante e por associações históricas, não teve qualquer condição objetiva de se materializar. Como fazer surgir um novo Amarildo no corpo de Bernard? Como idealizar que esse novo Amarildo, em vez de encarnar o “Possesso”, incorporaria o poder do “Grande inquisidor”, outro personagem de Dostoiévski? Que vã utopia! Diriam os mais cáusticos: que blasfêmia!

Com efeito e por ironia do destino, a impiedade do “Grande inquisidor” se identificou com o talento esbanjador e a frieza definidora dos craques da seleção alemã. Klose (que ultrapassou o recorde de gols marcados em Copas do Mundo, que pertencia a Ronaldo até o início desta Copa) Thomas Müller, Kroos, Khedira, Schurrle e companhia montaram um tribunal inquisitório avassalador, que, sem direito à réplica, queimou barbaramente o sonho do hexacampeonato dos brasileiros. 

O Grande Inquisidor: personagem e livro de Dostoiévski.

Seleção Brasileira: "Da imponência à completa impotência".
Seleção Brasileira: "Um gigante sucumbiu como um reles mortal".

segunda-feira, 7 de julho de 2014

POR UM NOVO AMARILDO. | Professor João Álcimo

POR UM NOVO AMARILDO.

(João Álcimo Viana Lima, em 7/7/2014).

No dia 2 de julho de 1962, o já consagrado Pelé, à época com 21 anos, sofreu uma distensão muscular na coxa direita, aos 25 minutos do 1º tempo, após ter desferido um petardo de fora da área. A lesão tirou-o da partida contra a Tchecoslováquia e do restante daquela Copa do Mundo. Tratava-se apenas da 2ª partida da fase de grupos. A seleção brasileira perdeu, portanto, seu grande expoente na disputa por seu bicampeonato, em gramados chilenos.

54 anos e dois dias depois do drama vivido pelo “Rei” do futebol, no Estádio Castelão, em Fortaleza, aos 40 minutos do 2º tempo, o craque Neymar, de 22 anos, foi vítima de uma falta violenta do lateral colombiano Zúñiga, o que provocou a fratura de sua 3ª vértebra lombar. Em jogo válido pelas quartas de final, a Canarinho venceu a Colômbia por 2x1, mas a lesão tirou sua maior referência (autor de quatro gols no certame) da disputa pelo hexacampeonato, desta vez, em gramados brasileiros. Espero que a FIFA, tão implacável contra dentadas, seja, também, rigorosa contra joelhadas criminosas.

Pelé foi vítima de sua própria força física e da determinação em campo; enquanto Neymar, embora sem ter feito uma boa exibição contra os colombianos, foi caçado covardemente e atingido pelas costas. Penso que agora, assim como em 1962, o futebol, em sua maior competição do planeta, foi a grande vítima pela exclusão de talentos diferenciados, que sempre ficam à espreita para corresponder às expectativas do grande público.

Acrescento que ambos, Pelé e Neymar, foram revelados no Santos, pelo qual conquistaram vários títulos. Pelé, após seus feitos na Copa de 1958, transformou a camisa 10 em símbolo e referência de toda e qualquer equipe. Neymar está na lista dos que herdaram o número da arte futebolística mundial. Em seu caso, com muita justiça.

Voltemos a 1962: o técnico Aymoré Moreira escalou Amarildo em substituição a Pelé. Após um empate sem gols contra os tchecos e com a classificação indefinida, não obstante os demais craques daquele time (quase todos campeões do mundo em 1958), o favoritismo cedeu lugar à desconfiança em torno do escrete brasileiro. Mas, por muito pouco tempo. No jogo seguinte, o Brasil venceu a Espanha, de virada, por 2x1, com exatos dois gols de Amarildo. A partir de então, Nelson Rodrigues, utilizando-se do romancista russo Dostoiévski, batizou-o de “Possesso”.

Sem Pelé, a “irresponsabilidade amável” de Garrincha, como diria Carlos Drummond de Andrade, assumiu o protagonismo da equipe brasileira. Aquela foi a Copa do Brasil e do Mané. Ele driblou, entortou, deu assistências, fez gols (de cabeça, de fora da área e de dentro da área), bateu faltas, foi expulso e absolvido, liderou o time, foi o melhor da Copa e sagrou-se bicampeão mundial. Tudo, ao seu jeito. Quanto a Amarildo, ele, simplesmente, honrou a vaga de Pelé. Na partida final, novamente contra a Tchecoslováquia, foi dele o gol de empate, na vitória por 3x1.

Sem Neymar, mais uma vez os brasileiros temem pelo comportamento e desempenho da Seleção. A “luz vermelha” acendeu novamente. Desta vez, com muito mais razão. Numa compreensão cíclica, o que se espera é que algum atleta, igualmente a Garrincha em 1962, assuma, agora, o papel de protagonista; bem como, que tenhamos um novo Amarildo a substituir o nosso principal jogador.

Mas, Amarildo, exatamente ele, com um profundo senso de realismo, em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, após a lesão de Neymar, tratou de distinguir os atletas, os times e o “joio” do “trigo”. Vejamos o que ele disse: "Não dá para comparar. Primeiro porque Pelé é Pelé e o Possesso é o Possesso. Depois, em 1962, nós já sabíamos quem eram titulares e reservas. Quando Pelé se machucou todos sabiam que eu entraria. Terceiro, a seleção de 1962 tinha muitos craques. Hoje, Neymar é o diferenciado. Será difícil achar um substituto".

Não vejo como não concordar com Amarildo. A diferença do nível técnico entre os dois elencos é abissal. À altura de Neymar, não temos ninguém. Dentre as opções, Ramires é volante ofensivo, que faz as vezes de meia; William é meia habilidoso, afeito a assistências aos seus companheiros, mas que não tem a intimidade com o gol; Bernard é atacante que se movimenta bem pelos flancos, tem velocidade e é o dono da camisa 20, o mesmo número de Amarildo em 1962. Quer quem seja o escolhido, numa Copa caracterizada como “rodrigueana”, conforme reportagem do jornal O Povo, o que se espera é que ele internalize, com os sopros da força exterior que vagueia e permeia sobre o futebol, a alegria e a técnica de Neymar e a altivez de Amarildo. Isso, guardadas as diferenças e respeitada a impossibilidade de comparações.

Outra grande incógnita e preocupação recai sobre quem assumirá o papel de protagonista. Oscar jogou muito bem o primeiro jogo (contra a Croácia), mas nos próximos confrontos deu-nos a grande impressão de que se tratou de um “alarme falso”. Hulk é o grande exemplo de que porte físico e garra não bastam para brilhar em nossa seleção. Fred até agora tem tido atuações pífias e indignas de um centroavante de ofício. Pelo visto, embora historicamente seja estranho, a tendência ao protagonismo está mais para o zagueiro David Luís, que tem sido o jogador brasileiro com melhores atuações: autor de dois gols (nas oitavas e quartas de final), espírito de liderança e um “capitão” sem braçadeira. Com um time visivelmente abalado emocionalmente, foi ele quem abriu, com êxito, a série de cobrança de pênaltis contra o Chile. Alguém se lembra de um zagueiro de área ter sido a principal referência de nossa seleção?

O técnico Luís Felipe Scollari tem uma biografia vitoriosa, incluindo a conquista do pentacampeonato mundial, em 2002. Naquele ano, contrariando o País em peso, ele optou por não convocar Romário. Por outro lado, ele centrou suas apostas em Ronaldo, em meio à incógnita sobre sua performance, após duas cirurgias oriundas de graves lesões. Resultado: Ronaldo foi o artilheiro da Copa e consolidou sua aura de “Fenômeno”. Felipão, por várias vezes, mostrou-se um especialista nos campeonatos ao estilo mata-mata. Não é demérito para sua biografia, mas se trata, efetivamente, de um cara de muita sorte. Assim, o Brasil espera que Deus o ilumine na definição do substituto de Neymar.

Que venha um novo Amarildo! Desta vez, não mais encarnando o “Possesso”, mas, com o devido beneplácito de Dostoiévski, incorporando o poder e a impiedade do “Grande inquisidor”, outro de seus personagens. Que venha o hexa!


Pelé saindo lesionado de campo, em 1962.


Garrincha comemorando o título da Copa de 1962 com Amarildo (camisa nº 20).


Fiódor Dostoiévski, escritor russo.

terça-feira, 1 de julho de 2014

NA FINAL DA COPA DE 1950, MULTIDÃO DELIROU AO SOM DE LUIZ GONZAGA. | Professor João Álcimo

NA FINAL DA COPA DE 1950, MULTIDÃO DELIROU AO SOM DE LUIZ GONZAGA.



Na final da Copa do Mundo de 1950, em 16 de julho, no Estádio Maracanã, o público, antes do jogo, foi presenteado com a apresentação de Luiz Gonzaga, o notável "Rei do Baião". Curiosamente, foi naquele ano, que o referido título foi cunhado a esse grande brasileiro nascido em Exu (PE). Vejamos o que escreveu o jornalista Armando Nogueira, no livro "A Copa que ninguém viu e a que não queremos lembrar", escrito em parceria com Jô Soares e Roberto Muylaert (Ed. Companhia da Letras, 1994):

"Palmas do público. A banda dos Fuzileiros, além de tocar muito bem, é um conjunto vistoso. O uniforme de gala dos músicos dá a impressão de que são todos almirantes de esquadra. Do bumbo ao bombardino. Agora é a vez do alto-falante alegrar a tarde. Todo um repertório de baiões. Primeiro, "Paraíba". Depois, "Baião de dois" e, depois, "Asa branca". É o gênero da moda no Rio. Só dá Luiz Gonzaga na sanfona, cantando Humberto Teixeira. A multidão delira. Cada baião é um hino da paixão nacional."

Vale a pena ler de novo: "Só dá Luiz Gonzaga [à época, com 36 anos] na sanfona, cantando Humberto Teixeira [cearense de Iguatu]. A multidão delira. Cada baião é um hino da paixão nacional."

Fica a pergunta: A autêntica música nordestina terá algum espaço na cerimônia de encerramento da Copa 2014, no próximo dia 13 de julho?

Luiz Gonzaga: "Cada baião é um hino da paixão nacional".
Capa do livro "A Copa que ninguém viu e a que não queremos lembrar".



O PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO E SUAS METAS PARA A PRÓXIMA DÉCADA. | Professor João Álcimo

O PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO E SUAS METAS PARA A PRÓXIMA DÉCADA. | Professor João Álcimo

quinta-feira, 26 de junho de 2014

A MORDIDA DE SUÁREZ SOB A ÓTICA DE NELSON RODRIGUES. | Professor João Álcimo

A MORDIDA DE SUÁREZ SOB A ÓTICA DE NELSON RODRIGUES. 


(João Álcimo Viana Lima, em 26/6/2014).

O jornal O Povo, na edição de 22/6/2014, publicou instigante matéria com o título “Uma Copa do Mundo rodrigueana”, assinada pelo jornalista Henrique Araújo e colaboração de Erico Firmo. Segundo estes: “A onipresença do anjo pornográfico [Nelson Rodrigues] é o certificado de que esta não é a Copa de Balotelli, Cristiano Ronaldo, Messi, Robben, Campbell ou Neymar. Imponderável, passional e cheia de excessos, esta é a Copa de Nelson”.

Conforme a reportagem, “jogadas como o peixinho de Van Persie e a cabeçada de Suárez não têm outra interpretação senão a de que uma nuvem de paranormalidade estacionou sobre o Brasil desde o dia 12 de junho”. Além disso, questiona-se: “Como explicar que a seleção chilena tenha despachado, no maior palco do futebol mundial, o Maracanã, a majestosa Espanha, encerrando não apenas a dinastia “tiki-taka”, responsável por tantas conquistas, mas levando a torcida a despejar vaias e olés?”

Com dez dias do evento máximo do futebol, Henrique Rodrigues e Erico Firmo destacaram que as profecias, as máximas e os adjetivos rodrigueanos estavam norteando (ou desnorteando) a Copa do Mundo 2014. Contudo, dois dias após a reportagem, a presença do “Anjo pornográfico” em gramados brasileiros (e fora dele), revelou-se com mais clarividência e contundência. A revelação teve o uruguaio Luis Suárez, como o ungido, o algoz e a vítima, ao mesmo tempo.

Num contexto que envolve "heroísmo" e "dramaticidade", o cara que se recuperou de uma cirurgia realizada nos meniscos, no final de maio deste ano, assistiu do banco de reservas a Celeste perder de 3x1 para o azarão Costa Rica. No jogo seguinte, como titular, fez os dois gols na dramática vitória de 2x1 contra a Inglaterra. Um dos gols – o de cabeça – teve semelhança com o 2º gol de Pelé e o último do Brasil, na vitória de 5x2 sobre a Suécia, na final da Copa de 1958.

Em 24 de junho, na batalha de Natal, entre duas seleções campeãs do mundo, que lutavam pela 2ª vaga do grupo D, haja vista que a seleção costarriquenha já havia se classificado, para as oitavas de final, com uma rodada de antecedência, Suárez conseguiu, a um só tempo, a "glória" e a "delinquência". Uruguai venceu a Itália por 1x0, com um gol aos 36 do 2º tempo, mas ele (o mais festejado e temido), resolveu mostrar a artilharia de sua arcada dentária, aplicando uma mordida no zagueiro italiano Chiellini. O árbitro não viu a grotesca cena, mas após o jogo, a imprensa e a FIFA foram implacáveis com o goleador uruguaio, que foi suspenso por nove jogos e ficou de fora do restante deste Mundial.

Com um episódio e um desfecho desses, só mesmo recorrendo ao ardoroso torcedor do Fluminense e que via no Brasil uma “pátria de chuteiras”, a cada entrada da seleção brasileira em campo. Na crônica “O divino delinquente”, publicada no jornal O Globo, em 18/11/1963, Nelson Rodrigues fez a defesa do atacante Almir Pernambuquinho, do Santos, que na vitória de 1x0 sobre o Milan, acertou uma botinada no brasileiro Amarildo (campeão do mundo em 1962) e cavou o pênalti, convertido em gol (o único da partida) pelo lateral Dalmo. O Santos se sagrou bicampeão mundial de clubes, mas Almir foi criticado pela imprensa por seus lances violentos contra jogadores do clube italiano.

Abaixo, transcrevo alguns trechos da referida crônica, com grifos meus em negrito:

- “A mais sórdida pelada é de uma complexidade shakespeariana. Às vezes, num corner mal ou bem batido, há um toque evidentíssimo do sobrenatural.”

- “O match Chile x Itália, em 62, foi canibalesco. Os adversários só faltavam chupar as carótidas uns dos outros. Em 58, no match Suécia x Alemanha, os 22 jogadores agrediram-se a dentadas. Nós é que vamos exigir, de um jogo de futebol, a cerimônia, a polidez, a correção de uma sessão da Câmara dos Comuns?”

- “Mas há o ser humano por trás da bola, e digo mais: — a bola é um reles, um ínfimo, um ridículo detalhe. O que procuramos no futebol é o drama, é a tragédia, é o horror, é a compaixão.”

- [Sobre o Santos]Nenhuma equipe terrena pode jogar tanto sem se morrer.” [Dá para aplicar a frase à seleção uruguaia?]

Resumindo: No contraponto das críticas, Nelson Rodrigues adicionou o adjetivo “divino” para definir a suposta "delinquência" de Almir.


Imaginemos, se vivo fosse, como seria a reação do grande e polêmico cronista e dramaturgo, após a decisão da FIFA de eliminar Suárez da Copa? Sob a ótica rodrigueana, como pode ser classificada a célebre mordida? Trata-se de mais um exemplo da "divina delinquência" no futebol?

Cena da mordida em Chiellini: "Suárez conseguiu, a um só tempo, a glória e a delinquência".

Nelson Rodrigues: "A mais sórdida pelada é de uma complexidade shakespeariana".

quinta-feira, 19 de junho de 2014

CHICO BUARQUE EM ONZE MÚSICAS: ESTÉTICA, CRÍTICA, EXPRESSÃO E SENTIMENTOS. | Professor João Álcimo

CHICO BUARQUE EM ONZE MÚSICAS: ESTÉTICA, CRÍTICA, EXPRESSÃO E SENTIMENTOS.

Na passagem dos setenta anos de Chico Buarque de Holanda, selecionei onze composições de seu expressivo e qualificado repertório musical. Chico Buarque, com sua estética impecável, expressão criativa, crítica acurada e leitura de sentimentos e da realidade sociopolítica, consagrou-se como um dos maiores nomes da história da música brasileira.Com faz bem ouvir as músicas de Chico Buarque! Abaixo, seguem, em ordem alfabética, as onze composições escolhidas:

A BANDA (Chico Buarque) - 1966.
"A moça triste que vivia calada sorriu / a rosa triste que vivia fechada se abriu / e a meninada toda se assanhou / pra ver a banda passar / cantando coisas de amor."
https://www.youtube.com/watch?v=WZWcpEgJZAY

APESAR DE VOCÊ (Chico Buarque) - 1970.
 "Você que inventou o pecado / esqueceu-se de inventar / o perdão [...] Você que inventou a tristeza / ora, tenha a fineza / de desinventar."
https://www.youtube.com/watch?v=nT1rxzFL0dE

ATRÁS DA PORTA (Chico Buarque / Francis Hime) - 1972.
"Dei pra maldizer o nosso lar / pra sujar teu nome, te humilhar / e me vingar a qualquer preço / te adorando pelo avesso."
https://www.youtube.com/watch?v=VEmxYvFgpWY

CÁLICE (Chico Buarque / Gilberto Gil) - 1973.
"Como beber dessa bebida amarga / tragar a dor, engolir a labuta / mesmo calada a boca, resta o peito / silêncio na cidade não se escuta."
https://www.youtube.com/watch?v=wV4vAtPn5-Q

CONSTRUÇÃO (Chico Buarque) - 1971.
"Amou daquela vez como se fosse a última / beijou sua mulher como se fosse a última / e cada filho seu como se fosse o único / e atravessou a rua com seu passo tímido / subiu a construção como se fosse máquina / ergueu no patamar quatro paredes sólidas / tijolo com tijolo num desenho mágico / seus olhos embotados de cimento e lágrima..."
https://www.youtube.com/watch?v=suia_i5dEZc

GENI E O ZEPELIM (Chico Buarque) - 1978.
"E também vai amiúde / com os velhinhos sem saúde / e as viúvas sem porvir / Ela é um poço de bondade / e é por isso que a cidade / vive sempre a repetir / Joga pedra na Geni!"
https://www.youtube.com/watch?v=jWHH4MlyXQQ

GOTA D'ÁGUA (Chico Buarque) - 1975.
"Deixe em paz meu coração / que ele é um pote até aqui de mágoa / e qualquer desatenção, faça não / pode ser a gota d'água." 
https://www.youtube.com/watch?v=GoZj4gvTAes

MEU CARO AMIGO (Chico Buarque / Francis Hime) - 1976.
"Meu caro amigo me perdoe, por favor / se eu não lhe faço uma visita / mas como agora apareceu um portador / mando notícias nessa fita [...] / Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta / muita mutreta pra levar a situação / que a gente vai levando de teimoso e de pirraça / e a gente vai tomando, que também, sem a cachaça / ninguém segura esse rojão."
https://www.youtube.com/watch?v=frT67CJbVcI

MULHERES DE ATENAS (Chico Buarque / Augusto Boal) - 1976.

"Quando amadas, se perfumam / se banham com leite, se arrumam / suas melenas / Quando fustigadas não choram / se ajoelham, pedem, imploram / mais duras penas / Cadenas."
https://www.youtube.com/watch?v=ojr9XfXNkI8

O QUE SERÁ (À FLOR DA PELE) (Chico Buarque) - 1976.
"O que será que me dá / que me bole por dentro, será que me dá / que brota à flor da pele, será que me dá / e que me sobe às faces e me faz corar / e que me salta aos olhos a me atraiçoar / e que me aperta o peito e me faz confessar / o que não tem mais jeito de dissimular / e que nem é direito ninguém recusar / e que me faz mendigo, me faz suplicar / o que não tem medida, nem nunca terá / o que não tem remédio, nem nunca terá / o que não tem receita."
https://www.youtube.com/watch?v=h9N6DVXJCp8

TROCANDO EM MIÚDOS (Chico Buarque) - 1978
"Eu vou lhe deixar a medida do Bonfim / não me valeu / mas fico com o disco do Pixinguinha, sim! / O resto é seu / Trocando em miúdos, pode guardar / as sobras de tudo que chamam lar / as sombras de tudo que fomos nós / as marcas de amor nos nossos lençóis / as nossas melhores lembranças."
https://www.youtube.com/watch?v=RxEn1NLmurM

Chico Buarque

quarta-feira, 18 de junho de 2014

O MAIS BELO GOL DA HISTÓRIA DAS COPAS DO MUNDO. | Professor João Álcimo

O MAIS BELO GOL DA HISTÓRIA DAS COPAS DO MUNDO.

(João Álcimo Viana Lima, em 18/6/2014).

Recentemente, vi algumas listas (quase todas no formato “top ten”), com os gols mais bonitos feitos ao longo da história das Copas do Mundo. Entre os golaços, temos aqueles cuja arte possui tonalidade coletiva; mas, temos outros em que a obra tem a marca registrada da individualidade. Das duas categorias, os três que na minha ótica merecem o pódio têm as cores do talento individual.

Em 3º lugar, fico com o gol de Al-Owairan, da nada tradicional seleção da Arábia Saudita, em 1994, contra a Bélgica. Referido atacante partiu com a bola de seu campo defensivo, traçou uma linha diagonal da esquerda para a direita, envolveu 5 adversários e tocou a bola para o fundo das redes.

A disputa pelo lugar mais alto, com a marca do acirramento entre Brasil e Argentina, ficou entre o gol de Pelé (em 1958) e o de Maradona (em 1986). O curioso é que nessas Copas, Pelé e Maradona se tornaram campeões do mundo. A despeito de ser brasileiro, fico com o gol de Edson Arantes do Nascimento (Pelé). Tratam-se de gols de puro e excepcional talento. Ambos derivaram-se da arte individual, mas tiveram traçados diferentes.

Maradona, após o controvertido gol com “la mano de Dios”, contra a Inglaterra, nas quartas de final, na Copa de 1986, mostrou para o mundo e para a história do futebol que sua mágica, mesmo não se comportando nos parâmetros normais, podia se inserir nos padrões da legalidade. Pois, então: Maradona, com “los pies”, como dono absoluto da bola, partiu na meia-direita, ainda no campo defensivo, percorreu 55 metros em 7 segundos, deu 11 toques, numa velocidade de 29 km/h, driblou 6 adversários (incluindo o goleiro inglês) e com o pé esquerdo marcou um golaço para lavar a alma dos argentinos. Lembremo-nos que quatro anos antes (em 1982), a Argentina saiu derrotada e combalida da Guerra das Malvinas, contra a mesma Inglaterra.

Quanto a Pelé, em vez de percorrer 55 metros e de utilizar a velocidade e os dribles com a bola correndo sobre o gramado, ele optou por demarcar um espaço milimétrico (aliás, de aproximadamente 1 metro) para revelar sua estética e plasticidade de artista da bola e sua excepcionalidade futebolística. Para o roteiro da obra-prima, foram necessários apenas 3 segundos. Somente isso! Nesse tempo, ínfimo que se tornou soberano, Pelé fez o seguinte: Ao receber a bola na grande área, após passe de Nilton Santos, fintou o 1º defensor ao matar a bola no peito, aplicou o "lençol" no 2º defensor (o volante Gustavsson) e, num chute de primeira, fez o 3º gol do Brasil, aos 9 minutos da etapa final. “Magistral gol de Pelé”, como narrou Edson Leite, pela Rádio Nacional. Para mim, o mais esplendoroso gol das Copas do Mundo.

Dois detalhes a mais merecem menção: Naquele 29 de junho de 1958, Pelé contava com apenas 17 anos (ou seja, seu reinado começou a ser edificado ainda na adolescência); seu gol magistral foi feito exatamente na partida final e contra a seleção anfitriã (a Suécia). Mas, Pelé é Pelé!

Gol de Pelé, na Copa de 1958.

Gol de Maradona, na Copa de 1986.

domingo, 1 de junho de 2014

Heróis do Tri | Professor João Álcimo

HERÓIS DO TRI




Capa do álbum, intitulado “As figurinhas dos heróis do Tri”. Trata-se de uma publicação, de 1988, da revista Placar, em alusão aos três títulos mundiais conquistados até então pela Seleção Brasileira. Na capa, temos as figuras de Pelé e dos três capitães que ergueram a taça Jules Rimet: Bellini (em 1958), Mauro (em 1962) e Carlos Alberto Torres (em 1970). A apresentação do álbum foi feita pelo jornalista Juca Kfouri.

sábado, 31 de maio de 2014

EEIF JOÃO VICTOR MOTA, NA ZONA RURAL DE TAUÁ: UMA ESCOLA QUE DÁ CERTO. | Professor João Álcimo

EEIF JOÃO VICTOR MOTA, NA ZONA RURAL DE TAUÁ: UMA ESCOLA QUE DÁ CERTO. | Professor João Álcimo

CHAVE DE OURO. | Professor João Álcimo

CHAVE DE OURO. | Professor João Álcimo

VASCO EM ÚLTIMO LUGAR. | Professor João Álcimo

VASCO EM ÚLTIMO LUGAR. | Professor João Álcimo

I WORKSHOP DE TURISMO CIENTÍFICO. | Professor João Álcimo

I WORKSHOP DE TURISMO CIENTÍFICO. | Professor João Álcimo

MINHA SELEÇÃO BRASILEIRA DE TODOS OS TEMPOS. | Professor João Álcimo

MINHA SELEÇÃO BRASILEIRA DE TODOS OS TEMPOS.

(João Álcimo Viana Lima, em junho/2014).

Há quem diga que no Brasil existem 201 milhões de técnicos de futebol. Certamente, não temos essa proporção de 1 treinador por 1 habitante, mas, em sendo o futebol uma das grandes paixões nacionais, não faltam palpiteiros e comentaristas sobre as mais diferentes escalações. Então, lá vou eu. O propósito, às vésperas da Copa do Mundo em gramados brasileiros, é escalar a Seleção Brasileira de todos os tempos, com todos os riscos de atrair vozes discrepantes, afinal de contas são muitos os treinadores neste País.

Esclareço que a escolha se deu com base no que vi, li e ouvi. Portanto, vídeos, revistas, jornais e transmissões radiofônicas e televisivas foram utilizados como fontes, por mim, para o cumprimento desta tarefa.

Escalei a Seleção de todos os tempos no esquema tático 4-3-3. Dos atletas escolhidos, 5 deles, a meu juízo, são incontestes. Pela ordem: Pelé, Garrincha, Nilton Santos, Didi e Carlos Alberto Torres.

As outras 6 vagas levaram-me a escolher entre mais de uma opção. No gol, fiquei dividido entre Gilmar (goleiraço campeão do mundo em 1958 e 62) e “São” Marcos, que ganhou a preferência. Na zaga, entre Domingos da Guia (back de estilo clássico e titular da Copa de 1938), Mauro Ramos (campeão do mundo e capitão do Brasil em 1962), Orlando e Aldair, optei pelos dois últimos. Na posição de volante, fiquei tentado em escalar Zito (campeão do mundo em 1958 e 62, ídolo do Santos, extraordinário no desarme e criador de jogadas), mas decidi-me pela técnica acurada de Falcão.

Na vaga de terceiro homem de meio-de-campo, a dúvida residiu entre os 826 gols e o talento extraordinário de Zico (maior ídolo da história do Flamengo e integrante da encantadora Seleção de 1982), a “patada atômica” e o “drible elástico” de Rivelino (campeão mundial de 1970) e a “canhota de ouro” de Gérson (também, campeão de 1970), que ficou com a vaga. Como centroavante, optei por Romário, mas com menções honrosas dirigidas a Ronaldo “Fenômeno” (campeão do mundo em 2002 e maior artilheiro da história das Copas).

Para a função de treinador, visualizei o nome de Telê Santana, mas logo o descartei. Na minha compreensão, apesar de seus diversos títulos em clubes (principalmente, no São Paulo) e do futebol estético apresentado por suas equipes, seus dois fracassos em Copas do Mundo (incluindo o de 1982) o inviabilizam para ser ungido como o melhor técnico brasileiro da história. Com efeito, fiquei com a carreira vitoriosa de Zagallo, principalmente ao considerar sua performance na Seleção Brasileira.

Não há como negar que a conquista de uma Copa do Mundo é a referência dos sonhos para qualquer atleta e treinador brasileiro. E, sem dúvidas, essa referência repercute em sua biografia e na sua avaliação. Como se vê, na seleção montada por mim, apenas Falcão não foi campeão mundial. Outro detalhe é que todos os títulos mundiais estão contemplados na escalação. Considerando que Nilton Santos, Didi, Pelé e Garrincha ganharam mais de uma Copa, na Seleção de todos os tempos, temos 5 jogadores de 1958, 4 de 1962, 3 de 1970, 2 de 1994 e 1 campeão de 2002.

Vejamos, agora, com alguns detalhes, os jogadores que integram a Seleção de todos os tempos.

GOLEIRO

MARCOS – Marcos Roberto Silveira Reis (Oriente/SP, 1973 - ).
O apelido “São Marcos” foi decorrente das muitas defesas consideradas milagrosas, que ele fez com a camisa do Palmeiras (único time de sua carreira coroada de títulos) e da Seleção Brasileira. Campeão mundial em 2002, Marcos, além de não cometer falhas durante aquela Copa, foi o melhor jogador em campo no jogo contra a Bélgica, nas oitavas de final. Embora convocado para a Copa de 2006, o técnico Parreira optou por Dida para ser o titular da posição. Em 1999, suas grandes defesas levaram o Palmeiras à conquista da Libertadores da América.

LATERAL DIREITO

CARLOS ALBERTO TORRES – (Rio de Janeiro/RJ, 1944 - ).
Capitão da seleção tricampeã, em 1970, disputou apenas aquela Copa, que foi suficiente para consagrá-lo. Por sinal, foi de Carlos Alberto Torres (num chute de primeira) o último gol do Brasil, na final contra a Itália, após grande jogada coletiva e passe de Pelé. Lateral extremamente habilidoso, é tido como o 1º ala do futebol mundial. O "Capita" foi destaque nos clubes em que atuou, como Santos, Fluminense e New York Cosmos. Dentre seus títulos, estão 2 campeonatos cariocas, 5 campeonatos paulistas e 2 campeonatos brasileiros.

 ZAGUEIRO

ALDAIR – Aldair Santos do Nascimento (Ilhéus/BA, 1965 - ).
A revista Placar, em sua edição de 3/8/1987, qualificou Aldair, à época com 21 anos, como um “zagueiro clássico”, que não “recorre às faltas” e “dificilmente recorre a um chutão”. Com esse perfil, mais tarde, pela Seleção Brasileira, ele foi tetracampeão (em 1994) e vice-campeão mundial (em 1998). Conquistou, ainda, duas edições da Copa América (1989/97) e a Copa da Confederações de 1997. Em clubes, pelo Flamengo, ganhou 1 Campeonato Carioca e o Módulo Verde de 1987; pela Roma, de quem é ídolo, ganhou outros títulos importantes.

ZAGUEIRO

ORLANDO - Orlando Peçanha de Carvalho (Niterói/RJ, 1935 - Rio de Janeiro/RJ, 2010). 
Habilidoso na antecipação, marcador preciso, tranquilo na saída de bola e detentor de ótimo vigor físico. Orlando foi titular da zaga do Brasil em seu 1º título mundial (1958); para a Copa seguinte, conforme critério da época, não foi convocado pelo fato de estar jogando no exterior. Em times, foi destaque no Vasco (onde foi revelado), Boca Juniores e Santos, sagrando-se 2 vezes campeão carioca, 2 vezes campeão argentino e 2 vezes campeão paulista, além de ter conquistado 1 título brasileiro.

LATERAL ESQUERDO

NILTON SANTOS – Nílton dos Santos (Rio de Janeiro/RJ, 1925 - Rio de Janeiro/RJ, 2013).
Campeão mundial em 1958 e 62 e, para a FIFA, o maior lateral esquerdo de todos os tempos. Conhecido como a “Enciclopédia do futebol”, o cronista Armando Nogueira, conceituou-o como “atleta de equilíbrio assombroso”, “craque extraordinário que encarnou a prefiguração de toda a evolução tática do futebol moderno” e zagueiro que “sempre teve alma e audácia de atacante”. Grande ídolo do Botafogo, seu único clube, por quem disputou cerca de 720 jogos e conquistou quatro campeonatos cariocas, dois torneios Rio-São Paulo e vários torneios internacionais.

VOLANTE

FALCÃO – Paulo Roberto Falcão (Abelardo Luz/SC, 1953 - ).
Um volante completo, com grande capacidade de marcação, ótimo chute e habilidade na organização de jogadas. Na Copa de 1982, foi eleito o 2º melhor jogador, em que o pese o Brasil ter ficado em 5º lugar. Após várias lesões, foi para a Copa de 1986, mas ficou na reserva. Maior ídolo da história do Internacional/RS, por quem ganhou 5 títulos gaúchos e 3 brasileiros; maior expoente da equipe da Roma na conquista do scudetto (1982-83), após 41 anos, e de 2 Copas da Itália (1981 e 84). Seus títulos e atuações no clube italiano, renderam-lhe o cognome de “Rei de Roma”.

MEIA

DIDI - Valdir Pereira (Campos dos Goytacazes/RJ, 1928 - Rio de Janeiro/RJ, 2001).
Meio-campista com enorme visão de jogo e que jogava com extrema elegância, Didi foi chamado de "Príncipe etíope", por Nelson Rodrigues, e de "O lapidador", pelo narrador Oswaldo Moreira. O autor da “folha seca”, cuja batida na bola, com o lado externo do pé, modifica sua trajetória, foi eleito o melhor jogador da Copa de 1958. Naquele Mundial, tornou-se emblemático seu gesto de serenidade e liderança, após a Suécia abrir o marcador, aos 4 minutos do 1º tempo. Campeão mundial em 1958 e 62, Didi destacou-se no Fluminense, Botafogo e Real Madrid, pelos quais conquistou vários títulos.

MEIA

GÉRSON – Gérson de Oliveira Nunes (Niterói/RJ, 1941 - ).
Na condição de comentarista, Gérson costuma “esbravejar” contra a deficiência técnica dos atletas em campo. O que o “Canhotinha de Ouro”, talvez, não compreenda é que “os outros são os outros”, como diz a composição cantada por Kid Abelha. Dono de lançamentos perfeitos (mesmo se a distância superasse os 40 metros), ótimo cobrador de faltas e detentor de chutes fortes e precisos, Gérson foi um dos expoentes do tricampeonato mundial, em 1970. Jogou e ganhou títulos pelo Flamengo, Botafogo, São Paulo e Fluminense (seu time de coração).

ATACANTE

GARRINCHA – Manuel Francisco dos Santos (Magé/RJ, 1933 - Rio de Janeiro/RJ, 1983).
Para Carlos Drummond, com sua “irresponsabilidade amável”, Garrincha “contrariava todos os princípios sacramentais do jogo”, mas “alcançava os mais deliciosos resultados”. Assim, como de hábito, nos minutos finais das decisões contra a Suécia e a Tchecoslováquia, nos Mundiais de 1958 e 62, respectivamente, o "Anjo das pernas tortas”, com irreverência e talento, entortava seus marcadores com dribles desconcertantes. Em 1962, voltou a ser campeão do mundo, sendo o grande maestro do Brasil e eleito o melhor jogador da Copa. Maior ponta-direita da história do futebol e maior ídolo do Botafogo, por quem marcou cerca de 250 gols e ganhou vários títulos.

ATACANTE

ROMÁRIO – Romário de Souza Faria (Rio de Janeiro/RJ, 1966 - ).
Ele poderia ter jogado outras Copas (em 1990 jogou uma partida incompleta; em 1998, foi cortado por conta de uma lesão; em 2002, aos 36 anos, não foi convocado). Mas, bastou a Copa de 1994 para ele ser o seu “dono” e liderar o Brasil na conquista do título máximo, após 24 anos. Atacante veloz, “baixinho” cabeceador (que nos diga o goleiro sueco, na semifinal de 94) e decisivo. Autor de 1002 gols e artilheiro de 27 campeonatos. Campeão da Copa América em 1989 e 97 e da Copa das Confederações, em 1997. Jogou, com destaque, no Vasco, PSV Eindhoven, Barcelona, Flamengo e Fluminense.

ATACANTE

PELÉ – Edson Arantes do Nascimento (Três Corações/MG, 1940 - ).
Com 17 anos, o adolescente Pelé, aos 9 do 2º tempo, na final da Copa de 1958, recebe a bola na área sueca, finta o 1º defensor ao matar a bola no peito, aplica o lençol no 2º defensor e, num chute de primeira, faz o 3º gol do Brasil. Um “gol de placa”, mas essa denominação seria criada três anos depois, em outro golaço de Pelé, na vitória contra o Fluminense, no Maracanã. Maior atleta de futebol do planeta, maior artilheiro da história do futebol (1281 gols) e da Seleção Brasileira (95 gols), o “Rei” Pelé ganhou três Copas do Mundo (1958/62/70). Pelo Santos, ganhou nada menos de que 2 Mundiais de Clube, 2 Libertadores da América, 6 brasileiros, 4 torneios Rio-São Paulo e 10 paulistas. Sem mais palavras: Pelé é Pelé! 


TÉCNICO

ZAGALLO – Mário Jorge Lobo Zagallo (Maceió/AL, 1931 - ).
“Vamos acreditar, hein!”; “nós vamos ganhar!” Essas frases foram proferidas por Zagallo, ao abraçar e ao pegar na cabeça de seus jogadores, antes das cobranças de pênaltis, na semifinal da Copa de 1998. Vibrante, vencedor e com grande consciência tática. Zagallo venceu duas Copas do Mundo como jogador (1958 e 62), 1 como treinador (1970), 1 como coordenador técnico (1994) e foi vice em 1998. Como técnico, pela Seleção, venceu, também, a Copa América (1997) e a Copa das Confederações (1997); foi campeão da Copa da Ásia, pela Arábia Saudita (1984); em clubes, dentre outros, ganhou 5 títulos cariocas e 1 brasileiro.

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P.S.: Eis a minha segunda Seleção: 
Gilmar; Djalma Santos, Mauro, Domingos da Guia, Júnior; Zito, Rivelino, Zico; Jairzinho, Ronaldo e Tostão.