João Álcimo Viana Lima
(03/12/2022)
O “planeta bola” acompanha com aflição o estado de saúde do Rei Pelé, cujo reinado teve início há 64 anos, quando o futebol brasileiro conquistou seu primeiro título mundial.
A propósito, destaco que o célebre cronista Nelson Rodrigues, em sua coluna “Meu personagem da semana”, publicada pela revista “Manchete Esportiva”, em 8/3/1958, profetizou a coroação de Pelé, à época com dezessete anos, como o rei do futebol. Três meses depois, a Seleção Brasileira estreou na Copa sediada na Suécia, com o adolescente Pelé na condição de reserva. Ao final do certame, Pelé reinava como titular absoluto do escrete brasileiro, com seis gols assinalados (sendo dois deles na final) e ostentava o título de Campeão do Mundo, superando nosso complexo de “vira-latas”. Literalmente, a profecia rodrigueana se cumpriria!
Leiamos alguns recortes da crônica:
“[...]
“Examino a ficha de Pelé e tomo um susto: — dezessete anos! Há certas idades que são aberrantes, inverossímeis. Uma delas é a de Pelé. Eu, com mais de quarenta, custo a crer que alguém possa ter dezessete anos, jamais. Pois bem: —verdadeiro garoto, o meu personagem anda em campo com uma dessas autoridades irresistíveis e fatais. Dir-se-ia um rei, não sei se Lear, se imperador Jones, se etíope. Racialmente perfeito, do seu peito parecem pender mantos invisíveis. Em suma: — ponham-no em qualquer rancho e a sua majestade dinástica há de ofuscar toda a corte em derredor.
O que nós chamamos de realeza é, acima de tudo, um estado de alma. E Pelé leva sobre os demais jogadores uma vantagem considerável: — a de se sentir rei, da cabeça aos pés.
[...]
Ora, para fazer um gol assim não basta apenas o simples e puro futebol. É preciso algo mais, ou seja, essa plenitude de confiança, de certeza, de otimismo que faz de Pelé o craque imbatível.
[...]
Com Pelé no time, e outros como ele, ninguém irá para a Suécia com a alma dos vira-latas. Os outros é que tremerão diante de nós.”
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