sábado, 6 de junho de 2020

MENTALIDADE COLONIAL E ENSINO SUPERIOR




João Álcimo Viana Lima
(Artigo publicado no jornal O Povo, em 6/3/2020)

No período colonial, o Brasil foi penalizado com a decisão do governo português de não permitir a instalação do ensino universitário em suas colônias. Com efeito, seus primeiros cursos superiores somente foram instituídos a partir de 1808, após a instalação da corte portuguesa em terras brasileiras. A primeira universidade (a UFRJ) somente se efetivou em 1920, enquanto o regime universitário foi instituído com a Reforma Francisco Campos, em 1931.
No estado cearense, em que pese à criação do curso em Direito no limiar do século XX, sua primeira instituição universitária (a UFC) concretizou-se apenas em 1954, sob a persistência de Martins Filho. Quanto ao Sertão dos Inhamuns, o advento dos cursos superiores foi postergado para 1995, quando, não sem enfrentar resistências, o então reitor da UECE, Paulo Petrola, implantou o Centro de Educação, Ciências e Tecnologia (CECITEC), em Tauá. À época, Petrola argumentou que uma microrregião não pode ser condenada à ausência de instituições por conta de sua posição geográfica e socioeconômica; pelo contrário, são os investimentos estratégicos que contribuirão para a reversão de um quadro histórico de isolamento e de ausência de oportunidades.
Recentemente, deflagrou-se uma grande polêmica em decorrência do anúncio de previsões orçamentárias, por parte do atual relator do orçamento da União, deputado Domingos Neto, para a criação, em Tauá, de um Campus da UFC (abrigando cursos da área de saúde) e do curso de Engenharia Civil, através do IFCE.
A despeito da portaria ministerial de abril de 2018, que suspendeu por cinco anos a autorização de novos cursos de Medicina, o que mais me entristece é a visão colonialista que concebe a universidade de forma elitizada, principalmente quando se tratam dos cursos que dão acesso a profissões historicamente mais valorizadas.
Longe de mim de defender uma política expansionista sem critérios qualitativos. Mas, é lamentável que no ano em que a universidade brasileira completa um século de existência, a mentalidade colonial ainda esteja a obstaculizar a democratização do acesso ao ensino superior.

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