sábado, 26 de abril de 2014

GOL DO TETRA. | Professor João Álcimo


(João Álcimo Viana Lima, em abril/2014)

“[...] Vem Amilton Melo roubando-lhe a bola, batendo na ponta para Ivanir, momentos finais da jogada, Ivanir, passou, atenção, vai marcar o gol, chutou, Tiquinho, meteeeeeuu! Goooooooooooooooooooooooooooooooool. Time pai d’égua! Estremece a arquibancada do Castelão! Eu juro pros senhores, a arquibancada do Castelão está sacudindo! Ceará, a um minuto apenas do tetracampeonato.”

Acima, eis a transcrição do memorável gol do tetracampeonato do Ceará Sporting Club, narrado pelo notável narrador Gomes Farias, pelas ondas da Rádio Verdes Mares AM. Referida final ocorreu em 20/12/1978, quando o Vozão, nos últimos minutos, com gol de Tiquinho, construiu o marcador de 1x0 contra seu arquirrival (o Fortaleza) e sagrou-se tetra cearense pela segunda vez. Registre-se que o primeira tetra foi conquistado na vitória de 2x0 sobre o Fortaleza, com gols de Walter Barroso e Enoch, em 17/12/1918.

Em 21/7/1999, no Castelão, o Ceará empatou em 0x0 com o Juazeiro e sagrou-se tetracampeão pela terceira vez. Gomes Farias, narrador dinâmico e de uma criatividade que se amplia e se renova ao mesmo tempo e com o tempo, narrou várias chances de gol do “Time pai d’égua” – o “Vozão do coração do meu povão”. Contudo, o placar permaneceu inalterado. Por sua melhor campanha durante o campeonato, o resultado conferiu mais um tetra para o Ceará.

Por último, em 23/4/2014, no Castelão em sua nova estrutura de Arena da Copa, tive a alegria de assistir e comemorar mais um tetracampeonato. Dessa vez, o quarto tetra do Vozão, conquistado no ano de seu centenário. Num jogo, bastante disputado, contra o Fortaleza (fazendo jus ao “clássico-rei”), com chances de gols desperdiçadas pelos dois times, o placar ficou no 0x0. Mais uma vez, o Ceará foi, de forma justa, beneficiado por jogar pelo empate, haja vista sua melhor campanha no decorrer do certame.

Voltando para o jogo final, bem que Felipe Amorim e Bill, que entraram na área com reais chances de gol, além do zagueiro Sandro, que chutou a bola na trave, após desvio de cobrança de falta, poderiam ter marcado. Assim, também, Magno Alves poderia ter convertido a cobrança de pênalti em gol, na primeira partida da decisão. O que seria mais lógico, principalmente em se tratando do “Magnata”. Mas, os dois resultados de 0x0, ao tempo em que têm a marca de mais um tetra, são retratos de uma indecifrável resistência do placar, do tipo: “daqui não saio, daqui ninguém me tira”.

Talvez, a bola tenha se lembrado da angústia do “goleiro na hora do gol”, musicada pelo grande Belchior. Por conseguinte, em vez de premiar um goleador, elegeu o goleiro Luís Carlos como a maior referência da conquista. Em vez do gol, tivemos, portanto, a defesa do tetra. Mas, enfim, como diz o Gomes Farias em suas narrações, o certo é que “invergou, mas não entrou”. O que se viu é que todo mundo “amarrou as almas” e que Gomes Farias gritou a conquista, mas não narrou outro gol do tetra.

Além da resistência do placar e da solidariedade da bola com a angústia do goleiro, merece registro a “profecia” de Tiquinho, feita na decisão de 1999. Conforme Tom Barros, em sua coluna no Diário do Nordeste (25/4/2014), o autor do gol decisivo de 1978 afirmou que o Ceará poderia ser tetra novamente, mas com o placar ficando no 0x0. Confirmando-se a profecia, a aura de “herói do tetra” seria indivisível e, acima de tudo, intransferível.

Ademais, a sensação que tenho é que a narração desse emblemático gol, por Gomes Farias, foi tão perfeita que ele não tem o direito de narrar o gol de um novo tetra do Vozão. Esse direito, contudo, ficou reservado para o penta em 2015, com um novo “Tiquinho” a esperar a bola na pequena área, após um passe na medida certa de um novo “Ivanir” e com a voz do mesmo “narrador espetáculo”.  

Tiquinho: autor do gol do tetra, em 1978.
Gomes Farias: narrador do emblemático  gol do tetra.

Reportagem sobre o gol do tetra do Ceará.



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