(João Álcimo Viana Lima, em abril/2014)
“[...] Vem Amilton
Melo roubando-lhe a bola, batendo na ponta para Ivanir, momentos finais da
jogada, Ivanir, passou, atenção, vai marcar o gol, chutou, Tiquinho,
meteeeeeuu! Goooooooooooooooooooooooooooooooool. Time pai d’égua! Estremece a
arquibancada do Castelão! Eu juro pros senhores, a arquibancada do Castelão
está sacudindo! Ceará, a um minuto apenas do tetracampeonato.”
Acima,
eis a transcrição do memorável gol do tetracampeonato do Ceará Sporting Club,
narrado pelo notável narrador Gomes Farias, pelas ondas da Rádio Verdes Mares
AM. Referida final ocorreu em 20/12/1978, quando o Vozão, nos últimos minutos,
com gol de Tiquinho, construiu o marcador de 1x0 contra seu arquirrival (o
Fortaleza) e sagrou-se tetra cearense pela segunda vez. Registre-se que o
primeira tetra foi conquistado na vitória de 2x0 sobre o Fortaleza, com gols de
Walter Barroso e Enoch, em 17/12/1918.
Em 21/7/1999, no Castelão, o Ceará
empatou em 0x0 com o Juazeiro e sagrou-se tetracampeão pela terceira vez. Gomes
Farias, narrador dinâmico e de uma criatividade que se amplia e se renova ao mesmo
tempo e com o tempo, narrou várias chances de gol do “Time pai d’égua” – o
“Vozão do coração do meu povão”. Contudo, o placar permaneceu inalterado. Por
sua melhor campanha durante o campeonato, o resultado conferiu mais um tetra
para o Ceará.
Por último, em 23/4/2014, no Castelão
em sua nova estrutura de Arena da Copa, tive a alegria de assistir e comemorar
mais um tetracampeonato. Dessa vez, o quarto tetra do Vozão, conquistado no ano
de seu centenário. Num jogo, bastante disputado, contra o Fortaleza (fazendo
jus ao “clássico-rei”), com chances de gols desperdiçadas pelos dois times, o
placar ficou no 0x0. Mais uma vez, o Ceará foi, de forma justa, beneficiado por
jogar pelo empate, haja vista sua melhor campanha no decorrer do certame.
Voltando para o jogo final, bem que Felipe
Amorim e Bill, que entraram na área com reais chances de gol, além do zagueiro
Sandro, que chutou a bola na trave, após desvio de cobrança de falta, poderiam
ter marcado. Assim, também, Magno Alves poderia ter convertido a cobrança de
pênalti em gol, na primeira partida da decisão. O que seria mais lógico,
principalmente em se tratando do “Magnata”. Mas, os dois resultados de 0x0, ao
tempo em que têm a marca de mais um tetra, são retratos de uma indecifrável resistência
do placar, do tipo: “daqui não saio, daqui ninguém me tira”.
Talvez, a bola tenha se lembrado da
angústia do “goleiro na hora do gol”, musicada pelo grande Belchior. Por
conseguinte, em vez de premiar um goleador, elegeu o goleiro Luís Carlos como a
maior referência da conquista. Em vez do gol, tivemos, portanto, a defesa do
tetra. Mas, enfim, como diz o Gomes Farias em suas narrações, o certo é que “invergou, mas não entrou”. O que se viu
é que todo mundo “amarrou as almas” e que Gomes Farias gritou a conquista, mas
não narrou outro gol do tetra.
Além da resistência do placar e da
solidariedade da bola com a angústia do goleiro, merece registro a “profecia” de
Tiquinho, feita na decisão de 1999. Conforme Tom Barros, em sua coluna no
Diário do Nordeste (25/4/2014), o autor do gol decisivo de 1978 afirmou que o
Ceará poderia ser tetra novamente, mas com o placar ficando no 0x0. Confirmando-se
a profecia, a aura de “herói do tetra” seria indivisível e, acima de tudo,
intransferível.
Ademais, a sensação que tenho é que a narração desse emblemático gol, por
Gomes Farias, foi tão perfeita que ele não tem o direito de narrar o gol de um
novo tetra do Vozão. Esse direito, contudo, ficou reservado para o penta em
2015, com um novo “Tiquinho” a esperar a bola na pequena área, após um passe na
medida certa de um novo “Ivanir” e com a voz do mesmo “narrador espetáculo”.
Tiquinho: autor do gol do tetra, em 1978.
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